Vencer nas urnas será apenas o primeiro passo na luta para recuperar a democracia. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 25 de setembro de 2018 às 8:18
Haddad em campanha: ele tem que se preparar para o terceiro turno

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(1) A pesquisa Ibope desta segunda-feira (24/09) confirma: crescimento acelerado de Haddad à medida que o eleitorado se torna mais consciente de sua relação com o ex-presidente Lula. Tudo indica que ele encosta no Bozo no primeiro turno e vence com alguma folga no segundo.

O que os números estão indicando é que, apesar de toda a deseducação política deliberada, o eleitor vota com algum discernimento. Reconhece nos governos do PT melhorias tangíveis para sua vida e dá a Lula o prêmio de sua lealdade. E, do outro lado, o eleitor de direita, aquele seduzido pelo golpismo e seus fantasmas, percebe que é o Bozo quem encarna a essência deste projeto e descarta as perfumarias com que o tucanato pretende camuflá-lo.

(2) O problema do Bozo não é a facada, que até lhe gerou alguma simpatia e sustentou o crescimento, por ora estancado, de sua candidatura. É que ele não tem para onde se mexer. Entre o “mito”, a persona que precisa alimentar a devoção de seus fanáticos, e os compromissos recentes com o ultramercadismo, que lhe garante o apoio de largos setores do capital, não sobra espaço para se movimentar de maneira a ampliar o eleitorado. Em suma, o Bozo está emparedado entre ele mesmo (e Mourão) e Paulo Guedes.

(3) O PSDB baseou sua identidade cada vez mais pesadamente no antipetismo, mas mantê-lo no segundo turno que se avizinha é abraçar o fascismo. A base tucana no empresariado, na mídia e na ciência política (estou me referindo aqui ao Bolívar Lamounier) está dividida entre os que já se bandearam para o Bozo e os que estão esperando o segundo turno. Para os caciques, é mais difícil. Imagino que será fatal a divisão entre a velha guarda (FHC, Alckmin), com algum pudor, e os novos, Doria à frente, que vão alegremente secundar o ex-capitão.

(4) Marina Silva não precisa mais ser levada em consideração na análise do cenário.

(5) A pesquisa lida apenas com uma pequena parte da conjuntura: quem ganhará a eleição. Confirma-se que tudo aponta para Haddad. Mas depois? Ele tomará posse? Tomando posse, vai governar?

As tensões militares que afloraram com tanto vigor há duas semanas estão menos visíveis, mas só isso: nada indica que tenham sido debeladas. O discurso do extremismo petista tem sido reforçado e, para além de seu pretendido impacto eleitoral, serve de pretexto para a desestabilização antecipada do futuro governo. Vale a pena ler a entrevista de Luiz Fernando Figueiredo, diretor do BC no governo Fernando Henrique e hoje, previsivelmente, especulador no mercado financeiro, publicada na Folha de ontem. Não existe preocupação nenhuma com a democracia, nem com um projeto de nação, nem com a reconstrução de um pacto de dominação com um mínimo de possibilidade de se manter estável. O que gente como ele quer é extrair até a última gota de sangue do trabalhador brasileiro, antes de fugir para Miami.

A vitória da centro-esquerda em outubro é apenas o começo da história. O eleitorado mostra discernimento, eu disse acima, não iluminação. É preciso liderança para a luta, que será dura. Não estamos numa eleição normal. Estamos numa eleição em que o critério da legitimidade popular para o exercício do poder está brigando para ser reinstituído.