Vendendo o peixe da dessalinização da água do NE, Bolsonaro quer comprar o reduto lulista. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de dezembro de 2018 às 12:37
Bolsonaro e o astronauta Marcos Pontes, futuro ministro

A briga de Bolsonaro com a mídia, especialmente a Globo, é um jogo de cena que agrada os indigentes mentais que o seguem, compradores da narrativa oficial de que ele não é aceito pelo “sistema”.

Na vida real, a cobertura cotidiana da saga bolsonarista é coisa de relações públicas qualquer nota.

Ele vai para a Restinga da Marambaia passar o fim de ano, publica fotos e vídeos lavando roupa e secando no varal em suas redes e os jornais reproduzem.

Ainda tem equipes de repórteres no mar à procura de sabe Deus o quê — do Queiroz é que não é.

Já tinha sido assim com os clássicos “Bolsonaro vai ao banco” e “o novo corte de cabelo de Bolsonaro”.

A papagaiada marqueteira da vez é um plano para conquistar o Nordeste, a última fortaleza lulista.

O Globo estampa em sua home: “Bolsonaro anuncia que ministro irá a Israel negociar parceria para dessalinização de água“.

A matéria repete, acriticamente, o que o sujeito grita no Twitter.

A saber, que o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, visitará em janeiro plantações e o escritório de patentes no país do Oriente Médio.

Ainda em janeiro, espera-se que seja implantada no Nordeste brasileiro uma instalação piloto para tirar água salobra de poços, dessalinizar, armazenar e distribuir para a agricultura familiar da região.

“Pretendemos ainda em janeiro construir instalação piloto para retirar água salobra de poço, dessalinizar, armazenar e distribuir para agricultura familiar, estendendo o projeto para mais localidades após testes e ajustes”, escreveu JB.

Ele quer uma resposta à transposição do São Francisco, marca dos governos petistas.

Temos então o astronauta Marcos Pontes como líder da missão.

Pontes, aquele que vendia “travesseiros da Nasa” e foi investigado pelo Ministério Público Militar sob a suspeita de ter faturado com a venda de produtos e palestras enquanto era oficial da ativa da Aeronáutica, vai aprender como funciona essa tecnologia e um paraíso será instalado no sertão.

Pode dar certo? Ora, milagres acontecem.

Cui bono? Quem se beneficia?

Aposto como os nordestinos estão no rodapé desse conta.

Por enquanto, é demagogia barata e assim deve ser tratado.

Bolsonaro mexe com o velho paralelo entre dois desertos, Israel e o Nordeste, sendo que um domou a natureza e o outro vive na seca.

O factoide vira manchete e um abraço.

O Queiroz? Continua desaparecido, numa boa, rindo de você.

O embaixador de Israel, Yossi Shelley