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Vidas secas: retratos da dramática falta de água em Itu (SP)

 

A população de Itu vive uma situação de calamidade pública. As represas da região, bastante usadas para nadar ou pescar, desapareceram. A Represa do Braiaiá, que é pequena, foi cercada pelo condomínio Terras de São José, que se expandiu em áreas do reservatório.

Há quatro anos, o prefeito Herculano Passos passou a administração da água para uma holding do grupo Bertum. Nada foi feito para melhorar a situação, que já é antiga e se agravou com a estiagem.

Neste momento a empresa Águas de Itu abastece a cidade com caminhões pipas, que retiram a água de uma empresa privada, a Rizzi, que a população tinha me indicado. Quando lá cheguei, vi que trata-se de poços artesianos, que há 40 anos abastecem as piscinas, lagos e caixas d´água da cidade.

Atualmente essa companhia foi requisitada, por decreto, a fornecer a água para Itu com os cinco poços ativos e uma fila de caminhões que saem a cada meia hora para a cidade.

Na praça principal, onde ficam o famoso orelhão gigante, o coreto e a igreja, as pessoas sentam-se desanimadas nos bancos à sombra. Passei na tradicional doceria Senzala, que produz as melhores queijadinhas do mundo, e lá tem uma piscina de plástico para as crianças se refrescarem, completamente vazia. O lavatório e os banheiros também sem nenhuma gota.

Uma senhora à janela de um dos antigos casarões me disse como lavava sua roupa: “Mando pra lavanderia”.

Nos bairros mais pobres, como o Jardim Eridano, a água não chega porque não tem força. Maria de Lurdes Oliveira, de 59 anos, carregava o balde até a cozinha e lavava a louça com uma caneca. Para cuidar da roupa o sacrifício é maior: ela carrega vários baldes até a máquina e aproveita a água desta lavagem para limpar o chão e o banheiro.

No bairro, por todo lado se vêem baldes e pequenas caixas vazias. Um grupo de mulheres e crianças aguardavam ansiosos a chegada de um caminhão para abastecer as suas casas. Uma dona de casa considerava uma vitória ter lavado a louça, outra compra garrafas de água mineral para cozinhar.

Nos reservatórios da Rizzi, muita gente enche garrafões e caixas em uma torneira. Há quem apareça com garrafas pet. Num sítio com poço artesiano, um casal vende o líquido de seu reservatório, mas não revelou o preço. Apenas que o dinheiro servia para pagar a energia.

 

Bia Parreiras

Fotógrafa desde 1968, Bia passou pelas redações de Última Hora, Veja (em duas fases), Exame, Vip, Playboy, Quatro Rodas, Viagem e Turismo e Guias Quatro Rodas.

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Bia Parreiras

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