
O polêmico protocolo anti-manifestações proposto pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, já está em ação no governo de Javier Milei na Argentina.
Nesta quarta-feira (20), movimentos de esquerda estão organizando uma manifestação pelas ruas de Buenos Aires, a partir das 16 horas, e vídeos que circulam nas redes sociais mostram que a polícia já iniciou uma ação para verificar se os cidadãos em direção ao centro da capital levam bandeiras e outros artigos que possam ser usados no ato.
Durante as revistas, agentes também aparecem filmando no que, segundo os militantes, seria para “identificação biométrica” de qualquer manifestante contra o governo. “Isso é uma ditadura!”, escreveu um usuário do X, antigo Twitter. Ele também questiona se “não é possível entrar em um transporte público com nada que não seja de Milei”.
Esto es una dictadura!
Entra la policía a filmar en los colectivos de LÍNEA , en cualquier momento piden documentación.
No se puede subir al transporte público con nada que no sea de MILEI? Libertad???? pic.twitter.com/zfFL8Y13Iu— Las Manos de Filippi (@lmf_oficial) December 20, 2023
Em outra gravação, é possível ver inúmeros policiais cercando os ônibus, no que seria uma denúncia de que eles estariam controlando quem pode entrar em cada veículo.
“A polícia controla e sobe nos coletivos para revisar se os passageiros levam bandeiras ou testes de direção a uma manifestação”, explicou outro usuário.
Essa mobilização representa o primeiro grande ato de oposição ao governo de Milei, que prometeu punições severas e até convocar as Forças Armadas para manifestantes que bloquearem vias públicas
AHORA: En la Au Ricchieri, la policía controla y sube a colectivos para revisar si los pasajeros llevan banderas o pruebas de dirigirse a una manifestación pic.twitter.com/v3XexMRu2N
— Agencia El Vigía (@AgenciaElVigia) December 20, 2023
De acordo com o jornal Clarín, os organizadores estimam a presença de 30 mil a 40 mil pessoas no protesto, que partirá do Congresso argentino em direção à emblemática Praça de Maio.
Na última quinta-feira (14), Patricia Bullrich anunciou a imposição de “severas penalidades” para aqueles envolvidos na “obstrução da livre circulação”. Este protocolo se aplica aos participantes, organizadores e financiadores dos protestos.
Apesar da recusa de habeas corpus preventivos pela Justiça argentina na terça-feira (19), o protocolo deve ser implementado no protesto desta quarta.
— Patricia Bullrich (@PatoBullrich) December 14, 2023
Eduardo Belliboni, líder do partido Polo Obrero e um dos organizadores do protesto, destacou a busca por uma “mobilização pacífica”, apelando para a negociação com o governo da cidade de Buenos Aires. “Queremos uma mobilização pacífica, não queremos confrontos, não queremos que nós nem as forças de segurança nos machuquemos”, disse em entrevista à Rádio Mitre.
O político também enfatizou o desejo de dialogar com o governo para coordenar o evento na Praça de Maio, evitando incidentes e garantindo a segurança tanto dos manifestantes quanto das forças policiais.
Além da oposição às medidas econômicas de Milei, os manifestantes pretendem homenagear os protestos ocorridos em 19 e 20 de dezembro de 2001, durante a crise econômica, onde 39 pessoas morreram, segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Argentina.
O controverso “plano motosserra” de Milei, que inclui a desvalorização do peso, a suspensão de obras públicas e a redução de subsídios de energia e transporte, tem sido alvo de intensa crítica e se tornou o catalisador para essa manifestação.