Desesperada, direita paulista entra em briga de foice para ter Walter Feldman. Por José Cássio

Atualizado em 4 de setembro de 2021 às 8:44
O ex secretário da CBF, Walter Feldman, em entrevista
Walter virou objeto de desejo porque faz aquilo que a direita não faz: conversa com o povo

A penúria política dos ajuntamentos que comandam a cidade de São Paulo e o governo do Estado é tanta que um nome que estava fadado a carta fora do baralho virou objeto de desejo tanto de João Doria quanto do trio Ricardo Nunes, Temer e Kassab, os mandatários de plantão da capital.

Os 2 grupos querem Walter Feldman.

O passe do ex secretario-geral da CBF, demitido no embalo do escândalo Rogério Caboclo, está sendo negociado a peso de ouro.

Temer e Kassab mandaram Walter abrir proposta para entrar na prefeitura.

Estão dispostos a dar o que ele quiser, montando a estrutura que for necessária para que o condomínio PSD-MDB consiga eleger uma grande bancada de deputados em 2022.

Temer e Kassab esperam também que Walter consiga atrair Geraldo Alckmin para disputar o governo do Estado pelo PSD – o ex-governador lidera as pesquisas, mas não consegue ter um diálogo mínimo com a dupla.

A situação de João Doria não é diferente.

Marqueteiro de segunda – surgiu na vida pública como um foguete e foi minguando, minguando, minguando, até se isolar das liderenças políticas mesmo dentro do PSDB -, Doria vê em Walter alguém para articular a base do partido e dar estofo à sua candidatura a presidente nos estados.

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O DCM apurou que Walter está fugindo dos 2 grupos.

Tem dito a amigos que cansou de carregar gente nas costas e receber ingratidão como retribuição.

Não está de todo errado.

Walter construiu quase sozinho a base do PSDB em São Paulo, especialmente na capital onde o partido é fortíssimo e tem capilaridade em praticamente todos os bairros.

Mário Covas dizia que se você não ‘amarrase as perninhas’ de Walter e ‘escondesse a caixa de tomate onde ele pudesse subir e falar’, tomava conta do partido, da cidade, do estado e do país.

Talvez por isso tenha sido alvo de inveja e perseguição.

Serra, por exemplo, não podia vê-lo nem pintado de ouro.

Até que se rendeu às evidências e teve em Walter seu principal quadro durante o período em que foi prefeito da capital, governador e candidato à presidência.

Em 2008, Walter articulou o apoio do PSDB à reeleição de Gilberto Kassab e bateu de frente com Geraldo Alckmin, que pleiteava a candidatura e negava a possibilidade do partido indicar o vice na chapa.

Geraldo conseguiu emplacar a primeira tese e se lançou candidato.

A pior coisa que fez na vida foi ter batido de frente com Walter: encerrou a campanha humilhado, tomando café na avenida Rio Pequeno com meia dúzia de pobres coitados, enquanto Kassab sobrava já no primeiro turno para arrebentar Marta no segundo, sem dó.

Desiludido com o partido e a política, Walter migrou para o futebol para salvar a pele de um velho amigo: Marco Polo Del Nero.

O ex-presidente da CBF estava fujindo da Interpol sob acusação de corrupção transnacional.

Na instituição, ficou até eclodir o escândalo Rogério Caboclo, quando foi demitido pelo atual presidente da entidade, Coronel Nunes, em junho deste ano.

Direita sem interlocução em São Paulo

Uma coisa é certa: após um período de negação obscurantista da política – João Doria foi um dos principais indutores desta farsa e hoje é vítima do que ele próprio ajudou a criar -, Walter é sim um reforço de peso.

O lado contrário é o que essa busca desesperada por um salvador da pátria sinaliza: tanto o ajuntamento de Doria quanto o condomínio de Temer e Kassab estão falando para as paredes.

Não há luz no fim do túnel da direita paulista.

Os dois grupos estão isolados, sem apoio e especialmente interlocução política com a sociedade.

Por esse motivo são capazes de matar para ter Walter.