
Tereza Campello, economista e doutora em Saúde Pública pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), avaliou a atual quadro de insegurança alimentar que, em diferentes graus, atinge 121 milhões de brasileiros.
Tereza Campello aponta paradoxo
Em entrevista ao Extra Classe, a economista disse o seguinte:
“É um paradoxo nós sermos um grande produtor de alimentos e voltarmos à fome, mesmo expandindo a produção.
O Brasil aumenta os seus lucros com a exportação de arroz e falta arroz no prato dos brasileiros, tem o agronegócio com uma lucratividade esplendorosa e um desemprego gigantesco no país”.
Brasil e a fome
Ao ser questiona sobre o retorno do Brasil para o Mapa da Fome, ela respondeu:
A primeira grande questão que eu acho interessante tratar é que nós saímos do Mapa em 2014 e isso não foi para nenhuma manchete de jornal. Praticamente não foi abordado pela grande imprensa, jornais, televisões.
Nada, nada. Então o Brasil, um país marcado pela fome, realiza um feito histórico e silêncio absoluto. Infelizmente, agora, a fome volta para as manchetes dos grandes jornais, das TVs.
Uma tragédia e eu acho que a imprensa tem abordado o assunto – importante falar porque a situação é dramática e tem que ser enfrentada –, mas pecando por dois motivos.
O primeiro deles é que, em geral, se atribui o retorno do Brasil (ao Mapa da Fome) à tragédia do coronavírus. Isso está errado.
O Brasil já tinha voltado ao Mapa da Fome em 2017, 2018, no governo Temer, por conta do desmonte e da desorganização de um conjunto de políticas públicas.
O segundo erro, crasso, é tratar da fome e, ato contínuo, falar da filantropia, da solidariedade; fazer chamamentos para que a sociedade, a população, doe alimentos.
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