O Chile, outra vez, entre democracia e ditadura. Por Emir Sader

Atualizado em 12 de dezembro de 2021 às 14:12
Chile democracia e ditadura
O Chile entre a democracia e a ditadura

O Chile tem uma longa tradição de continuidade institucional. Desde 1820, quando o Estado nacional foi afirmado, ocorreram apenas dois momentos de ruptura institucional, um na década de 1890 e outro na década de 1920, ambos muito breves.

Até o colapso brutal do golpe de 1973, quando Pinochet ordenou o bombardeio de La Moneda e, com ele, o colapso mais dramático da democracia chilena, que durou até 1990. A transição democrática moderada levou até as maiores mobilizações populares em muito tempo, em 2019.

Mobilizações que conquistaram uma Convenção Constituinte, com representação paritária entre homens e mulheres e com representação específica dos mapuches. Convenção que elegeu um líder mapuche para presidi-la.

Paralelamente, ocorreram as eleições presidenciais, que tiveram o surpreendente resultado do primeiro lugar para o candidato da extrema direita, José Antonio Kast, com dois pontos de vantagem sobre o candidato da nova esquerda chilena, Gabriel Boric, da Frente Ampla.

Kast superou o candidato do presidente Virgilio Pinera, apoiado pela tradicional direita chilena, muito desacreditada pelo fracasso de seu governo, mas também por seu envolvimento com os Panama Papers.

Boric, um ex-líder estudantil, participante direto das grandes mobilizações dos últimos anos, que mal completou 35 anos, idade mínima para se candidatar a presidente do Chile. Boric derrotou o candidato do Partido Comunista em preliminares internas à esquerda.

Desde então, as pesquisas têm variado de claras vantagens para  Boric, a uma recuperação de Kast, por um empate técnico favorável a ele, e uma nova pesquisa, uma semana antes do segundo turno das eleições, com uma vantagem para o Boric de 4 pontos.

As oscilações devem ser mantidas até o último momento, principalmente devido à abstenção de 53% do primeiro turno. Esse número foi ainda maior entre os jovens e as camadas mais pobres da população. Em grande medida, a campanha pelo segundo turno tem-se centrado na busca desse enorme contingente, existente devido à decisão há alguns anos da não obrigatoriedade do voto – decisão que deve ser revista pela Convenção Constituinte. Não está claro quantos dos que se abstiveram votarão no segundo turno e em quem votarão.

Kast reivindica abertamente Pinochet – portanto, a ditadura -, Trump e Bolsonaro. Portanto, representa a extrema direita chilena, latino-americana e internacional.

Boric tem um programa democrático, ecológico, feminista, de descentralização política para as regiões. Ele é apoiado por líderes de esquerda latino-americanos, incluindo Lula e Alberto Fernandez.

Um representa claramente as longas tradições democráticas do Chile. O outro representa a velha e a nova direita chilena, com posições de extrema direita.

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Essa é a decisão que o Chile vai tomar no próximo domingo. Dois candidatos e duas correntes radicalmente opostas se enfrentarão.

Se Boric vencer, o Chile se juntará ao grupo de governos progressistas e antineoliberais da América Latina. Se Kast vencer, o Chile viverá isolado em um ambiente latino-americano que vai na direção oposta à extrema direita.

O Chile se encontra, assim, novamente entre a democracia e a ditadura.

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