A falsa homenagem do presidente da Fundação Palmares a Mussum. Por Sacramento

Atualizado em 13 de novembro de 2020 às 8:50

Por Marcos Sacramento

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, anunciou que o humorista Mussum será um dos homenageados da galeria de personalidades da instituição. Vinda de alguém capaz de chamar o movimento negro de escória, a homenagem está mais para ofensa à memória do saudoso trapalhão.

Camargo afirma que Mussum será inserido de acordo com os novos critérios de homenagem da fundação, que entrarão em vigor a partir de 1º de dezembro.

Bolsonarista e fã de Trump, Camargo explica que a medida “moraliza” a lista de personalidades. “Assinei hoje portaria que moraliza a lista de personalidades negras da Fundação Palmares. O critério de seleção passa a ser a relevante contribuição histórica. Haverá exclusão de vários nomes”, escreveu no Twitter.

Raso, ele não explica por que a relação atual, com nomes do passado e do presente como Zumbi dos Palmares, Carolina de Jesus, Martinho da Vila ou Sueli Carneiro seria imoral. Adianta que a lista será póstuma, regra que deixará de fora Gilberto Gil, Conceição Evaristo e Leci Brandão, entre outras personalidades vivas.

Há alguns meses, Camargo determinou a retirada dos nomes de Marina Silva e da deputada Benedita da Silva, em mais um ato de ataque ao pensamento progressista.

Usuário dedicado do Twitter, Camargo vive a espezinhar o ativismo negro, com críticas ao movimento Black Lives Matter e ao Dia da Consciência Negra. Quando não faz isso, tece homenagens ao padrinho político Jair Bolsonaro.

Geralmente as ideias de Camargo expostas no Twitter cabem nos limites dos 280 caracteres da rede social, sem nenhuma elaboração mais sofisticada ou referência bibliográfica, condições mínimas para qualquer crítica ao movimento negro brasileiro, criado e sustentado por um formidável time de intelectuais.

Ainda assim, o discurso de Sérgio Camargo presta enorme desserviço à causa antirracista. De tão absurdo, é impossível imaginar um negro com um mínimo de consciência racial concordando com tantas falácias. Muito menos aceitando homenagens.

Segundo a cineasta Suzanna Lira, diretora do documentário  “Mussum – Um filme do Cacildis”, Mussum não tolerava racismo no dia a dia e “partia pra cima” se alguém direcionasse a ele alguma piada feita no programa Os Trapalhões.

Com esse perfil, fica difícil acreditar que Mussum receberia de sorriso aberto uma comenda das mãos de Sérgio Camargo. Mais provável que ele dissesse “não, obrigadis”.