A realidade paralela de Ricardo Capelli. Por Valter Pomar

Atualizado em 24 de março de 2024 às 19:39
Ex-Secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli. Foto: Divulgação

Por Valter Pomar

Faz tempo que Ricardo Capelli pensa o que pensa.

Sendo assim, não me surpreendo com sua postagem acerca do golpe e das forças armadas.
O mais triste nesta postagem é a ignorância histórica.
Desde 1964 até hoje, uma das principais características das forças armadas brasileiras é sua submissão de fato à uma potência estrangeira, os Estados Unidos.
Por isso, mas também por razões práticas as mais diversas, se dependesse apenas ou principalmente destas forças armadas que temos hoje, correríamos mesmo o risco de virar um “protetorado indefeso”.
Portanto, se queremos ter forças armadas à altura dos “tempos de guerra” em que vivemos, faz-se necessário implementar mudanças estruturais em nossa política de Defesa.
E a primeira dessas mudanças é tratar a Defesa como um assunto da sociedade. Dito de outra forma, submeter a política de defesa e as instituições militares ao domínio do chamado “poder civil”.
Por isso, se queremos forças armadas capazes de defender o Brasil, se queremos ter uma relação harmoniosa com as forças armadas, se queremos uma relação que mire o futuro, então é indispensável superar a herança que recebemos, não apenas do bolsonarismo, mas principalmente da ditadura militar.
Neste sentido, é um imenso erro a decisão imputada por Capelli a “Lula oficial”.
Digo imputada, porque uma decisão de “Lula oficial” precisaria estar materializada em algum documento legal, não em recados ou meias declarações.

Aliás, o fato de – até agora, pelo menos – não ter havido nenhum documento oficial é demonstrativo da dificuldade não apenas moral e política, mas também legal, de tentar silenciar a obrigação líquida e certa que o governo tem, de manifestar-se acerca do golpe consumado em primeiro de abril de 1964.

Dificuldade moral, porque temos uma dívida com os que lutaram antes de nós.
Dificuldade política, porque o golpe de 1964 e a ditadura militar impediram as reformas estruturais pelas quais lutamos ainda hoje.
Dificuldades legais, porque o governo tem obrigações que vem descumprindo, neste caso da Memória, Justiça e Reparação.
Imenso erro, porque ajudaria muito, no enfrentamento político da extrema-direita, um balanço público do que foi o golpe de 1964 e a ditadura militar.
O problema é que setores do governo parecem acreditar que a melhor e mais eficaz maneira de tratar a extrema-direita é deixar o assunto nas mãos do STF.
Além de confiarem demasiado em Alexandre Moraes e companhia, estes setores não refletem acerca do que aconteceu conosco, com o PT.
Não se derrota judicialmente um movimento político-ideológico de massas.
A extrema-direita brasileira é um movimento político-ideológico de massas. Medidas judiciais contra seus líderes não são suficientes para resolver o problema.
Para derrotar a extrema-direita, será necessário, para além da justiça, um movimento político-ideológico de massas, dirigido pela esquerda.
Um movimento que, além de defender a soberania, o desenvolvimento e o bem-estar social, também defenda as liberdades democráticas.
Ao adotar a postura que vem adotando frente ao sistema político, frente ao Supremo, frente ao Congresso, frente aos meios de comunicação, frente ao fundamentalismo religioso, frente a violência policial e frente às forças armadas, um pedaço da esquerda demostra que seu discurso em favor da democracia é, em boa medida, demagogia inconsequente.
Ou, é claro, pode ser apenas a realidade paralela vivida por certas pessoas que, depois de trilharem um longo caminho para chegarem aonde chegaram, agora mudaram de lado, embora as vezes eles próprios e alguns de seus amigos ainda não tenham se dado conta disto.
No caso de Aldo Rebelo, acho que já se deram conta.
Originalmente publicado no Blog do Valter Pomar
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