A seguir neste ritmo, capital e apoio político de Bolsonaro terminam antes do fim do mandato. Por Vinícius Segalla

Atualizado em 29 de julho de 2019 às 21:56
O presidente da República, Jair Bolsonaro (Evaristo Sá/AFP)

O debate está na praça: Jair Bolsonaro faz cortina de fumaça com suas declarações pouco ortodoxas ou ele é assim mesmo? É para esconder os mortos que o SUS sem remédio está deixando no meio do caminho, ou ele é assim mesmo? É para tirar o foco de seus familiares que viajam em aeronave oficial, de seu ministro da Justiça que foi seu maior cabo eleitoral, do desemprego que voa alto e da economia que não decola, ou é porque ele é assim mesmo? O debate está na praça.

Um fato, porém, não é passível de debate, por estar assim, posto ao Sol e aos olhos de todos: a cada dia, a cada nova declaração heterodoxa, cortina de fumaça ou não, Bolsonaro perde faixas, setores, nomes e nichos de apoio político. Está-se diante de um esvaziamento ininterrupto do capital político deste governo, em ritmo tal que, se mantido, esvai-se de vez antes do fim do governo.

São basicamente três eixos de sustenção do presidente: (i)setores da imprensa, (ii) partidos e grupos políticos e (iii) influenciadores e propagadores de propaganda e noticias falsas nas redes sociais. A cada dia, o círculo de apoio a Bolsonaro nesses três eixos mais se esvazia, como se mostra abaixo.

Imprensa

Antes das eleições, o ponto mais extremo a que chegou um veículo da grande imprensa foi dizer que se estava diante de “uma escolha difícil” entre Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT. Foi o jornal “O Estado de S.Paulo”, que publicou, em editorial, não saber o que poderia ser pior, se o ex-capitão ou professor da USP.

Atualmente, é certo que Bolsonaro ainda mantém bolsões e boçais de apoio dentro da imprensa brasileira. Figuras como Augusto Nunes, José Nêumane Pinto, todos os Antagonistas e a revista “Isto É”, entre alguns outros, seguem apoiando o mito e sua eterna cruzada antipetista.

Por outro lado, quem poderia dizer, há seis meses, que a revista Veja estaria publicando os malfeitos do ministro da Justiça do presidente, ou que o jornalista Ricardo Noblat, que as jornalistas Míriam Leitão e Rachel Sheherazade ou ainda que o colunista Rodrigo Constantino estariam assim tão sonora e publicamente enojados com o governo do ex-deputado? Logos eles, que só tinham nojo para o PT.

 Políticos e partidos

É certo que há ainda muita gordura para queimar até que se esvaia todo o apoio político de Jair Bolsonaro. Dois nichos, em específico, é possível que o presidente jamais perca: a extrema-direita, com suas dezenas de parlamentares advindos de forças policiais e do Youtube, e a imutável fatia fisiológica, que apoia o governo que for, por um preço justo e que caiba no seu bolso.

Por outro lado, quem diria, há oito meses, que os rapazes da foto abaixo, como o chamado “Mamãe Falei” e Kim Kataguiri, estariam agora se repetindo em críticas ao presidente que ajudaram a colocar no poder?

Imagem: Reprodução de Internet

Ou quem seria capaz de adivinhar, no início deste ano, que o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP), já antes do mês de agosto, estaria assim tão decepcionado com o Mito? Ou que o governador João Dória, inventor do “Bolsodoria”nas eleições do ano passado, estaria tão precocemente se afastando do presidente, classificando como inaceitável o que diz o presidente? Logo eles, que só usavam a palavra inaceitável para tratar do Partido dos Trabalhadores?

Influenciadores de redes sociais

Atualmente, é difícil imaginar que Jair Bolsonaro venha a perder, um dia, o apoio de gente como o ex-roqueiro e atual animador de auditório Roger, que baba um dia sim e um dia também seu ódio à esquerda e seu amor ao presidente e tudo que ele representa. O mesmo vale para figuras como Nando Moura, Allan Santos e Bernardo Kuster. Se o leitor não conhece esses nomes, acredite, está melhor assim.

Por outro lado, quem arriscaria dizer, nos idos de janeiro de 2019, que um personagem como Danilo Gentili, que tão bem recebeu o presidente em seu sofá no SBT, estaria hoje dizendo que os apoiadores de Bolsonaro “passam pano na mamata do patrão“? Ou quem ousaria dizer que o cantor Lobão, que já cuspiu no prato do PT e na sua própria história com tanto gosto, estaria agora novamente fazendo a mesma coisa, apenas tendo Jair Bolsonaro como nova escarradeira?

Por quanto tempo Bolsonaro poderá seguir impressionando o Brasil e o mundo com suas declarações inacreditáveis e seu governo indescritível, é difícil precisar, mas fato é que cada vez menos gente acha graça.