Alexandre de Moraes oficializa Mauro Cid como o homem-bomba de Bolsonaro. Por Sakamoto

Atualizado em 9 de setembro de 2023 às 20:22
Ministro do STF, Alexandre de Moraes. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Por Leonardo Sakamoto

A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que o tirou da cadeia após quatro meses, deve colocar o ex-presidente Jair Bolsonaro na porta do xilindró.

Não sabemos ainda o que ele prometeu entregar à Polícia Federal, mas como a homologação do acordo passou pelas mãos do ministro Alexandre de Moraes, do STF, pouca coisa não deve ser. Deve incluir tentativa de golpe de Estado, venda das joias que pertenciam ao patrimônio brasileiro a ricaços nos Estados Unidos e fraude em cartões de vacinação.

Até porque o celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro estava gritando provas desde que foi apreendido. A base de onde a delação partirá, portanto, vai ter que ser mais alta.

Moraes homologou o acordo no inquérito das milícias digitais (INQ 4.874) que corre no Supremo Tribunal Federal.

Mauro Cid se provou homem de múltiplas habilidades. Para a ex-primeira-dama, Michelle, era seu caixa eletrônico. Para militares, o serviço de atendimento a oficiais golpistas. Para o Ministério da Saúde, um hacker de cartões de vacinação. Para Jair, gerente de lavanderia de joias doadas ao patrimônio público.

Ele foi versátil nos quatro anos de Bolsonaro, o que lhe garantiu um currículo, quer dizer, uma capivara extensa.

Mauro Cid e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Todo aliado próximo de Bolsonaro sonha com a possibilidade de nunca ser abandonado pelo “mito” quando a sua capivara começar a morder, apesar do que aconteceu com tantos outros. De Gustavo Bebianno, que o céu o tenha, a Daniel Silveira, que Bangu o guarde. Com Cid não deve ter sido diferente.

Mas, em algum momento, a reflexão leva à percepção de que a regra de ouro de Jair é o “Cada um por si e Deus acima de todos”. Como está preso desde o 3 de maio, o tenente-coronel deve ter se amargurado não apenas com o sentimento de abandono por parte do ex-patrão como também com o envolvimento de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, apontado como muambeiro de ouro para Jair em Miami. O que fará com que um sobrenome de prestígio no Exército seja jogado em definitivo na lama.

Se a delação for além do que a PF já sabia, a investigação receberá subsídios para reforçar que Bolsonaro era o chefe de uma quadrilha de militares que contrabandearam, desviaram e venderam joias doadas ao Brasil por governos árabes. Mas não só: que ele foi mentor intelectual (sic) dos ataques ao sistema eletrônico de votação e dos atos golpistas de 8 de janeiro.

Sem contar que pode aparecer como alguém que pediu para Cidinho mexer nos seus registros de vacinação a fim de não ter problemas ao permanecer nos EUA, uma vez que – em tese – não se vacinou contra covid-19.

Caso ele queira ir além, tem espaço também para contar como o ex-presidente empurrou a população para se contaminar com o coronavírus, o que contribuiu para a montanha de mais de 700 mil mortos pela covid-19.

Com a delação de Cid, torna-se necessário garantir que Bolsonaro não possa fugir do país, como já disse aqui.

É compreensível que a PF não queira uma prisão cautelar neste momento da investigação, preferindo reunir ainda mais provas, mas é fundamental confiscar o passaporte dele e de sua esposa, além de solicitar medidas para proibir que ele saia do país através de aeroportos e postos de fronteira.

Cid é peça central para desvendar várias maracutaias. Comparado a ele, Fabrício Queiroz, antigo faz-tudo de Bolsonaro e que foi acusado de ser responsável por arrecadar grana desviada de salários de servidores de gabinetes da família, as famosas “rachadinhas”, era um recruta. Muito mais graduado do que o antigo roleiro, Cid também representa um risco muito maior para a liberdade de Jair. Sua delação coloca o relógio na contagem regressiva. Tic-tac.

Tão logo ele deixou claro que trocaria a confissão (na qual ele conta o que fez de errado) pela delação premiada (quando testemunha o que os outros fizeram), em troca de redução de pena e de sua liberdade provisória, a família Bolsonaro reforçou o mimimi. Em um culto na quinta (7), a ex-primeira-dama disse, aos prantos, enrolada em uma bandeira do Brasil, que ela e o marido estavam sendo “perseguidos e injustiçados”.

Disse que “todos aqueles que tivessem Cristo como o Senhor salvador seriam perseguidos. E nós estamos sendo perseguidos e injustiçados”. Mas eles não estão sendo perseguidos por pregar a palavra de Deus, mas investigados por roubo de joias, por incitar golpe de Estado, por manipular dado de vacinação. Só isso já bate de frente com muita coisa presente na Bíblia, a começar pelo “Não furtarás” do livro de Êxodo, capítulo 20, versículo 15.

Bem diferente do dia 26 de agosto, quando, durante um evento do PL Mulher, ela ironizou a investigação da Polícia Federal postando “Mijoias pra vocês”.

Publicado originalmente pela UOL

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