Ao “expulsar” médicos cubanos, Bolsonaro ajuda Trump no cerco à Ilha. Por Daniel Trevisan

Atualizado em 18 de novembro de 2018 às 10:34

O brasileiro pobre vai pagar pelo serviço que Jair Bolsonaro prestou à política de relações exteriores dos Estados Unidos da América.

A saída dos médicos cubanos, resultado da hostilidade do presidente eleito mesmo depois da campanha eleitoral, atende à ofensiva de Donald Trump para asfixiar economicamente a ilha.

É que, com a saída do programa Mais Médicos, Cuba perderá receita, num primeiro momento, até que outro país absorva os médicos que estavam no Brasil.

Interessados não faltam.

No curto prazo, porém, o baque será grande: as exportações de serviços de saúde se tornaram sua principal fonte de renda internacional.

É maior que a exportação de produtos produzidos na ilha, como açúcar, tabaco, rum ou níquel. Os convênio de assistência de saúde celebrados pelo governo cubano respondem  por 11 bilhões de dólares dos 14 bilhões de dólares que Havana arrecada por ano com exportações de bens e serviços, segundo dados da Organização Mundial do Comércio.

Com o fim do acordo com o Brasil, assinado em 2013, o governo cubano deve perder 332 milhões de dólares (ou mais de R$ 1,1 bilhão) por ano.

O valor supera as exportações de charutos (259 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e cria mais um desafio econômico para o país, que há 56 anos sofre um duro embargo comercial dos Estados Unidos.

Segundo reportagem da BBC,  o economista cubano Mauricio De Miranda Parrondo, professor titular da Pontifícia Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, o prejuízo será grande.

“As alternativas (à perda econômica do Mais Médicos) são muito escassas”, diz Parrondo. “As opções mais visíveis aparecem no turismo cubano, mas não se espera que o vácuo deixado pela renda vinda do Brasil possa ser coberto com isso.”

Tradicionais carros-chefes do comércio local, as indústrias açucareira e de níquel amargam uma crise que vem se agravando nos últimos anos.

O turismo rende atualmente 2,8 bilhões de dólares anuais para a ilha, mas está sob a mira do presidente americano Donald Trump, que incluiu na última sexta-feira 16 hotéis cubanos na lista de empresas cubanas com as quais os americanos não podem fazer negócios.

Enquanto muitos veem a perda do Mais Médicos apenas como produto da inépcia do presidente eleito, outros já começam a perceber que, por trás da retórica beligerante do capitão da reserva, está o interesse norte-americano.

Até a posse de Donald Trump, havia o encaminhamento para uma solução civilizada para o conflito entre a Ilha e os Estados Unidos.

As relações diplomáticas tinham sido restabelecidas. Mas, com Trump, ligado à comunidade dos cubanos-americanos, ultraconservadores, o torniquete ficou mais apertado.

Bolsonaro pode estar fazendo um favor à política de Trump, e isto explica por que altos funcionários do governo norte-americano se apressaram em bater palmas para o primeiro mandatário brasileiro.

No fim de tudo, quem pagará a conta é o pobre brasileiro.