Atolado em suspeitas de corrupção, Salles quer criminalizar MST para bancar sua candidatura em SP

No tempo do bisneto de Campos Salles como ministro, quem quisesse saber sobre a questão ambiental tinha de abrir as páginas policiais

Atualizado em 21 de maio de 2023 às 8:25
Salles com Bolsonaro em coletiva à imprensa durante o governo do ex-capitão

Salles é uma família numerosa, e relativamente conhecida na cidade de Campinas.

Lojas Salles, Salles advogados, Salles corretor de seguro, de venda de imóveis, muitos Salles aposentados.

O Ricardo Salles que quer ser prefeito de São Paulo – concorre pelo PL, mesmo partido de Bolsonaro – é proveniente da capital, de uma família de advogados. O próprio formou-se em direito pelo Mackenzie.

Tem pós em Coimbra e Lisboa, além da GV.

Por 7 anos, acreditou-se que tinha um mestrado em Yale, nos Estados Unidos, após a Folha bancar a mentira num rodapé de artigo.

De tanta vergonha alheia, a própria administração de Yale, em 2019, veio a público desfazer o mal entendido: não, o rapaz nunca sequer havia passado pelo portão da Universidade.

Salles então jogou a culpa nas costas de um assessor e, como não era de interesse da Folha alongar o assunto, a coisa acabou ficando por isso mesmo.

Rastro de corrupção por onde passou

Numa vez um ex-prefeito de Campinas sentou-se ao lado dele num encontro no Palácio dos Bandeirantes.

Tentou puxar papo:

– De que Salles você é em Campinas?

O então secretário particular do governador Geraldo Alckmin, cuja especialidade era entregar cartão particular e engordar o patrimônio, não curtiu.

– Sou bisneto de Campos Salles, disse, encerrando o assunto.

Campos Salles presidiu o Brasil no período da República Velha, entre 1898 e 1902.

Em outra oportunidade, Alckmin chamou os vizinhos para um café: tinha um nome para representar o bairro na eleição à Câmara de vereadores.

Foi organizada uma reunião de diretório para receber o indicado: era Ricardo Salles.

Saiu como entrou: sem olhar na cara de ninguém e sem receber nenhuma simpatia em troca. Resultado: nem se candidatou.

Passou pela secretaria do Meio Ambiente do Estado, deixando suspeitas de corrupção, seguiu para o governo Bolsonaro, onde é acusado de tráfico transnacional de madeira, roubada de reserva nacional, e agora, deputado federal eleito na onda da extrema-direita, quer o Palácio Anhangabaú.

Estratégia ele já tem: criminalizar os movimentos sociais que lutam pelo direito à terra e à moradia.

11% das intenções de votos e figura onipresente nas redes após a relatoria da CPI do MST

Neste sábado, 20, Salles está bombando nas redes: é figura quase onipresente depois de ostentar 11% das intenções de votos, segundo o último levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, e ainda por ter assumido a relatoria da CPI do MST que será presidida por um militar do Rio Grande do Sul, coronel Zucco, investigado por suspeita de incentivar atos antidemocráticos.

É certo que a pauta defendida por ele cola no interior do Estado, onde a luta pela terra segue na base da grilagem e dos jagunços, mas na capital?

Salles não passava de um otário quando surgiu pagando anúncio na Folha como o fundador do Movimento Endireita Brasil.

Virou especialista em colecionar votações pífias, até aparecer como ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, de onde acabou saindo pela porta dos fundos fugido da Polícia Federal.

Recebeu 500 mil votos – metade do que teve Joice Hasselmann, sua irmã gêmea que já está no ostracismo – e agora encasquetou que quer ser candidato a prefeito. Ninguém banca se tem apoio de Bolsonaro e de Tarcísio.

Na relatoria da CPI do MST ele já adiantou que os movimentos não são sociais e sim criminosos. Diz que quer separar “o joio do trigo”.

Gleisi Hoffmann, presidente do PT, comentou que a Comissão já nasce com a sentença pronta:

– Terão a desmoralização total da Câmara, escreveu a dirigente no Twitter. Pois vão conhecer a importância do MST como produtor agroecológico, além do trabalho solidário e de inclusão social que fazem.

Em outras rodas, a relatoria surge como trampolim para atacar o líder nas pesquisas, Guilherme Boulos, do PSOL.

Combinado com o coronel Zucco, que manda na pauta, Salles iria alimentando conforme a necessidade e as oportunidades de fustigar o adversário, também deputado federal e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

Fobia Social

Com notável dificuldade de lidar com gente – quem esteve próximo dele jura que sofre de fobia social -, Salles tem desvantagens num embate eleitoral numa cidade como São Paulo, diversificada, grande demais e com autonomia em relação à soma dos pequenos e médios municípios do interior.

Outro fato importante, e essa é uma péssima notícia para seus estrategistas: sob os holofotes da CPI, o bisneto de Campos Salles terá de explicar os inúmeros crimes que cometeu, no governo de São Paulo ou no ministério do Meio Ambiente.

Com o atual prefeito Ricardo Nunes feito ‘João Bobo eleitoral’, e seu xará mais sujo que pau de galinheiro, além de ser um chato, a esquerda tem grandes chances de voltar ao comando da capital em 2024.

A bola está quicando na área.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link