Os índios da Amazônia vão perder suas terras e sua alma? questiona o texto. A ameaça é real depois da série de medidas adotadas nos últimos dias pelo governo Bolsonaro, acredita o correspondente do jornal conservador no Brasil, Michel Leclerq.
O medo das populações indígenas é alimentado principalmente por dois motivos. O primeiro é o projeto de lei, apresentado na semana passada, que autoriza a exploração econômica em grandes áreas da floresta tropical, que será aberta a investimentos nos setores de mineração, petróleo, agronegócio, turismo ou para a construção de barragens. O segundo motivo de intimidação, segundo a matéria, é a nomeação de um ex-missionário evangélico, Ricardo Lopes Dias, para a chefiar a coordenação-geral de proteção a índios isolados da Funai.
Constituição garantiu direito a terras ancestrais
A reportagem lembra que a exploração da maior floresta tropical do mundo começou desde a chegada dos portugueses ao Brasil no século 16, mas ganhou um impulso decisivo a partir da Ditadura Militar brasileira, nos anos 1970. Com a volta dos civis ao poder, a Constituição de 1988 garantiu aos povos indígenas a posse de suas terras ancestrais que equivalem a 12% do território nacional, isto é, mais de um 1 milhão de km², informa o correspondente.
Antes de chegar ao poder, Jair Bolsonaro afirmou que os índios viviam nas reservas “como animais em zoológicos” e que hoje “eles mudaram, são seres humanos como nós e devem ser integrados”, cita o diário. A reportagem indica que algumas tribos não são insensíveis a esse discurso devido às compensações financeiras previstas no projeto de lei em troca da exploração de suas terras. Mas a grande maioria rejeita categoricamente esses projetos.
“O sangue que corre em nossas veias é impregnado de nossas lutas e resistências. Não aceitaremos esse pesadelo” previne, em declaração ao Le Figaro, a líder indígena Sônia Guajajara, coordenadora da Aliança dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Ameaça aos índios isolados
O projeto de assimilação forçada ameaça os grandes povos da floresta, mas também os pequenos grupos vulneráveis de índios que vivem isolados, sem nenhum contato com o mundo exterior. A Funai calcula que o país possui 114 desses grupos.
O novo coordenador-geral de proteção a índios isolados da Funai integrou a Missão Novas Tribos, de origem americana, que é acusada de ter dizimado o povo Zo’é. Mesmo se Ricardo Lopes Dias tenha garantido que não vai tentar evangelizar essas populações, o conjunto dos organismos indígenas rejeitou sua nomeação, informa o texto.
O padre Patricio Brennan, que atua na Amazônia há quarenta anos, entrevistado pelo Le Figaro, considera a situação uma “tragédia”. Segundo ele, essa visão do governo é “retrógrada e não respeita a cultura, as tradições e as crenças desses povos, que têm o direito de ficar isolados”.