Carnaval Sem Terra: confira a agenda das folias do MST em 2023

Atualizado em 17 de fevereiro de 2023 às 23:13
Bloco dos Sem Terra. Fotos: Gustavo Caetano

Com a aproximação do carnaval de 2023, o MST em todo o país já se organiza para uma série de ações que marcam a folia dos Sem Terra no mês de fevereiro. A agenda que contempla a diversidade expressa no carnaval, movimentará camponeses, camponesas e o conjunto da militância do Movimento nas próximas semanas em várias cidades do Brasil.

Levando para as ruas, nos blocos ou escolas de samba, ao som do frevo, do samba ou do maracatu, o MST realiza em 2023 dezenas de iniciativas que prometem cantar a luta e a resistência Sem Terra também nos dias de carnaval.

Com início das folias já nas prévias, o Carnaval Sem Terra foi aberto em 2023 com o Bloco Pisa Ligeiro, que ocupou pela primeira vez as ruas de Juiz de Fora (MG), no último dia 11. O Bloco ocupou as ruas da cidade com a força da organização popular camponesa que usa as ferramentas de trabalho na terra como instrumentos percussivos que marcam o ritmo da festa.

Envolvendo escolas do campo, acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária, os blocos do MST materializam a alegria camponesa nos dias de folia. Somente no estado do Ceará estão previstos 10 blocos que movimentam as comunidades nesse período (confira programação completa abaixo).

Também marca tradicional no carnaval do Movimento, o Bloco Sem Terra está confirmado por mais um ano em Olinda (PE), com saída prevista para a segunda-feira (20), a partir das 13 horas, no Fortim do Queijo. O Bloco que comemora 23 anos este ano, homenageará Guitinho de Xambá, cantor e compositor falecido em fevereiro de 2021. O Armazém do Campo Recife também se torna, desta vez, um polo oficial do Carnaval da capital pernambucana, recebendo o Polo Novo Cais, com programações todos os dias de folia a partir desta quinta (16).

Além do que já é tradicional da agenda, esse ano o MST ocupa também o Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP), com participação no desfile da Escola Camisa Verde e Branco que, com a participação de militantes do Movimento, passa pela avenida no próximo domingo (19), defendendo o enredo “Invisíveis”, que destaca a luta pelos direitos sociais no desfile do Grupo de Acesso do carnaval paulista. (Mais informações abaixo)

Ainda no ritmo do samba, a Escola Unidos da Lona Preta, organizada pelo MST no estado do Paraná, desfila na Avenida Marechal Deodoro, em Curitiba (PR), no domingo (19), junto da Escola de Samba Leões da Mocidade.

A parceria de anos da Unidos da Lona Preta com a Leões da Mocidade tem fortalecido cada vez mais a participação do MST no carnaval na capital paranaense que envolve uma série de iniciativas de mobilização e formação dos Sem Terra no estado para ocupar a avenida com as cores e a força do povo camponês, construindo inclusive oficinas de preparação de adereços, figurinos, além de cursos sobre a história do carnaval e de construção de samba enredo. Em 2021 a Escola lançou um samba em homenagem ao legado de Paulo Freire, pela passagem do seu centenário. Escute aqui:

 

Confira a programação do #MSTnoCarnaval em 2023:

 

BAHIA:

20/02 – Bloco MST Folia, no Prado

PERNAMBUCO:

20/02 – Bloco Sem Terra, em Olinda

13h no Fortim do Queijo

CEARÁ:

16/02 – Santana Folia 2023, em Monsenhor Tabosa

17/02 – Bloco Unidos da Terra, em Madalena

17/02 – Bloco Unidxs da Lona Preta, em Madalena

17/02 – Bloco Unidos da João Sem Terra, em Quixeramobim

18/02 – Maracatu Nação Camponesa, em Monsenhor Tabosa

18/02 – Bloquinho Gente Miúda, em Monsenhor Tabosa

20/02 – Bloco Deu Onda, em Tururu

Bloco Infantil Filhos da Cuca, em Canindé

Bloco a Cuca Te Pega, em Canindé

PARANÁ:

18 e 20/02 – Bloco do Povo, em Centenário do Sul

19/02 – Desfile da Unidos da Lona Preta com a Leões da Mocidade, em Curitiba

SÃO PAULO

19/02 – Participação no desfile da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, em São Paulo

MST avermelha sambódromo e canta o enredo “Invisíveis” da Escola de Samba Camisa Verde e Branco

“Até quando a pobreza irá sustentar a riqueza de homens que assolam o país?…”. Essa é a questão central que a Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco dará destaque no desfile, deste próximo domingo (19), no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

Após a confirmação de Nita Freire, viúva do educador Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, e do padre Júlio Lancellotti, a agremiação informou que militantes Sem Terra participarão dos desfiles deste ano. Com o enredo “Invisíveis”, a Escola de Samba canta um verdadeiro manifesto na avenida, feito por expoentes das lutas construídas no Brasil.

A avenida será ocupada por palavras de ordem como Reforma Agrária, comida na mesa do brasileiro, direitos sociais, entre outras pautas defendidas historicamente por movimentos e organizações populares. Baseado no artigo 6° da constituição, a Escola propõe uma passeata no sambódromo, e questiona, indaga, interroga e lança perguntas que não querem calar. Com essa mensagem de luta e resistência popular, a Escola buscará o título do Grupo de Acesso 1 paulistano.

Ana Chã, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, está acompanhando os ensaios e o processo de participação do Movimento no desfile. Ela afirma que foi com muita alegria que o Movimento recebeu o convite da Escola para o desfile e cantar no sambódromo esse samba enredo que é “tão potente e tão forte”.

Invisíveis, o enredo da Camisa Verde e Branco. Divulgação

“Para o MST que é um movimento de luta camponesa, poder estar nessa grande festa da cultura brasileira, essa grande festa do samba e da alegria, é muito especial. Poder estar fazendo parte deste enredo, que traz as lutas sociais, que traz a luta por moradia, a luta por educação, a luta por dignidade, trazendo o trabalho magnifico do padre Júlio Lancellotti, trazendo a luta pela terra e pela reforma agrária é extremamente importante”, pontua Ana.

Ana Chã explica também que a luta pela Reforma Agrária Popular construída pelo Movimento sempre foi uma luta de todos. “Uma luta que é feita no campo, mas que é travada na cidade, abraçada por todos e todas. E poder fazer isso com muita alegria, com muita música, com muito samba no pé é importante. É muito especial o carnaval, e as escolas de samba têm muito para nos ensinar por ser essa tradição histórica da cultura brasileira que propõe não só um espetáculo, mas propõe outras formas de sociabilidade de laços comunitários, de fortalecimento da organização social, e esse enredo traz isso”.

Uma história de organização social

A história do Camisa Verde e Branco começa em 1914, quando foi criado o “Grupo Carnavalesco Barra Funda”, liderado por Dionísio Barbosa. Barra Funda é um bairro localizado na região central da capital paulistana.

Nesse grupo carnavalesco, os homens saíam pelas ruas do bairro vestidos de camisas verdes e calças brancas. Durante o Estado Novo, os integrantes do Barra Funda foram confundidos com simpatizantes da Ação Integralista Brasileira, partido político de Plínio Salgado, e por isso perseguidos pela polícia de Getúlio Vargas, até deixarem de desfilar em 1936.

Depois de 17 anos, em 1953, Inocêncio Tobias, o Mulata, cria um movimento para reorganizar o antigo grupo carnavalesco, criando no dia 4 de setembro o Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco. Logo no seu primeiro ano desfilando como cordão, o Camisa Verde vence o desfile de cordões, com o enredo IV Centenário. O Camisa ainda seria campeão como cordão mais quatro vezes: 1968; 1969; 1971 e 1972 (ano este em que os cordões já estavam em decadência com a popularização das escolas de samba). Depois do carnaval de 1972 o Camisa segue o caminho natural, tornando-se escola de samba com o fim do desfile de cordões, chegando ao primeiro título, como escola, em 1974.

Tem Sem Terra desfilando, sim!

Essa é a primeira vez que integrantes do MST desfilam com a Camisa Verde e Branco, porém, ao longo da história, o Movimento tem participado do carnaval, construindo parcerias e pisando nos sambódromos.

Os Sem Terra já desfilaram, no final dos anos 90, pela Escola de Samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, em 2002 pela Nenê da Vila Matilde (SP) e em 2007, pela Gaviões da Fiel (SP). Ana Chã relata que essa participação no carnaval tem um objetivo político: “trazer para o coração da cidade, a bandeira da reforma agrária, da produção de alimentos saudáveis, da agroecologia, da justiça social e da luta por um mundo melhor, onde não tenhamos uma grande parte da população invisível. Pelo contrário, participativa, atuante e celebrativa”, conclui.

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