Caso Itaipu: empresário passou empresa de energia para o filho antes de virar suplente do Major Olímpio. Por Zambarda

Atualizado em 22 de setembro de 2019 às 19:41
Major Olímpio e seu suplente Alexandre Giordano

O repórter Lúcio de Castro, da Agência Spotlight, publicou matéria em 15 de agosto de 2019 sobre os empresários Alexandre Giordano (suplente do senador Major Olímpio), Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian (sócios do Grupo Léros) e suas ações suspeitas em datas próximas da eleição de Bolsonaro, antes do escândalo do Paraguai.

Entre 6 e 16 abril de 2018, Giordano saiu de uma empresa e a deixou para o próprio filho, na época menor de idade. No dia 3 de outubro do mesmo ano, os sócios do Grupo Léros abriram uma offshore no paraíso fiscal do Panamá.

O texto recupera a informação que consta em documentos vazados na série de reportagens de Mabel Rehnfeldt do Jornal ABC Color, do Paraguai.

De acordo com a publicação, um envelope enviado pelo correio por parte de representantes da estatal paraguaia tinha o nome de Alexandre Luiz Giordano como destinatário.

O endereço, rua General Ataliba Leonel 1205 (bairro de Santana na Zona Norte de São Paulo), além de constar como sala da empresa do suplente de senador, também era do diretório do PSL.

A antiga sede do PSL em SP

O DCM visitou o endereço e traçou um perfil de Giordano em outra reportagem. Fomos informados pelo porteiro de que o diretório do partido do presidente da República saiu dali há três meses.

A Agência Sportlight constatou que um outro endereço da empresa de Alexandre Giordano, na mesma rua só que no número 1223, sexto andar, também era usada como sede do PSL.

Isso foi exibido em uma intimação da Comissão de Ética da legenda para a líder do governo Joice Hasselmann feita em junho de 2018.

O ABC Color também exibiu conversas de WhatsApp de autoridades paraguaias que falam em negócios privilegiados para a Léros por indicação de Alexandre Giordano. No mesmo diálogo, citam a “família Bolsonaro por trás” dos atos que indicam a Léros.

Fontes disseram ao DCM que Giordano não tem acesso direto ao presidente da República, mas o senador Major Olímpio seria seu intermediário.

Offshore panamenha no escândalo

Os empresários Kléber Ferreira da Silva e Adriano Tadeu Deguirmendjian, sócios do Grupo Léros, que comercializa energia. Eles seriam concorrentes de Alexandre Giordano, mas estão inseparavelmente unidos na empreitada paraguaia. De acordo com os documentos obtidos pela Agência Sportlight na Junta Comercial do Panamá, os sócios do Grupo Léros abriram a empresa Novel Industries Inc naquele país em 3 de outubro de 2018.

A abertura aconteceu exatos 4 dias antes do primeiro turno de 2018, quando o Major Olímpio foi eleito senador por São Paulo e consegiu na primeira suplência a presença de Alexandre Giordano.

Ferreira e Deguirmendjian tem ainda como sócio na empreitada no conhecido paraíso fiscal com Celso Bispo dos Reis.

Os dois empresários aparecem no documento da junta panamenha com o endereço paulistano do Grupo Léros. Já Celso Bispo dos Reis forneceu como endereço um local no Butantã, bairro de São Paulo, onde na verdade consta o “Spa Della Rosa”. Trata-se de uma instituição com cabelereiro, manicure e pedicure que está em nome de Larissa Deguirmendjian, também acionista do grupo Léros.

O filho de Giordano

Alexandre Luiz Giordano tirou nome de empresa que vendia energia e botou o filho 10 dias depois de se filiar ao PSL. Ele se desincompatibilizou da participação em uma empresa que tinha entre as atividades registradas na Receita Federal o “comércio atacadista de energia elétrica”.

De acordo com a Spotlight, a retirada do nome na sociedade aconteceu em 16 de abril de 2018, A filiação no PSL foi realizada na véspera do 7 de abril, último dia permitido para disputar as eleições do ano passado.

No lugar de Alexandre Giordano na “Enfermade Empresa Brasileira de Bioenergia” ficou como único sócio o filho Lucca Giordano, então com 17 anos, emancipado pelo pai em registro no cartório. O endereço da empresa era o mesmo do diretório do PSL na capital paulista.

As empresas de Alexandre Giordano. Foto: Reprodução

Fontes enviaram ao DCM mais informações sobre Lucca Giordano. A história não acaba aí.

O nome do filho do suplente aparece em cinco empresas do pai.

IBEF Indústria Brasileira de Estruturas de Ferro (Mineração); Lobel Indústria, Comércio, Importação e Exportação; Multimineração – Extração de Minérios; Grupo Giordano Participações e Família Giordano Indústria e Comércio.

Na Associação Brasileira das Empresas de Coleta, aparecem Ubiratan Sebastião de Carvalho, Juliana Mecenero (mulher do suplente de Olímpio) e Maria Pereira Giordano (mãe dele).

O DCM entrou em contato novamente, por telefone e email, com o Major Olímpio e com seu suplente, Alexandre Luiz Giordano, para esclarecer essas informações.

Giordano não enviou nenhuma resposta até o momento da publicação. Olímpio mandou a seguinte nota, referente às notícias dadas pelo jornal paraguaio ABC:

Estive no Paraguai entre os dias 11 e 12 de abril para participar do Encontro de Católicos com Responsabilidade Políticas ao serviço dos povos latino-americanos do Cone Sul,  realizado em Assunção, Centro Marianela (Atyrá).

No local,  tive a oportunidade de participar do painel “O que dizem os políticos aos Pastores? “.

Além disso, estive em audiência com o ministro da Justiça do Paraguai, Julio Javier Ríos, para tratar de assuntos relacionados à segurança pública dos dois países.

Por fim,  participei da cerimônia em homenagem ao Dia do Exército  Brasileiro realizado na embaixada brasileira, local onde fiquei hospedado.

Todos eventos oficialmente realizados e que podem ter sua veracidade confirmada com os respectivos órgãos responsáveis.

Acrescento ainda, que pedi escolta ao Ministério das Relações Exteriores em razão das ameaças que sofria na época da viagem, conforme  documentado junto ao Itamaraty.

Acredito, que a reunião mencionada, sobre o acordo de energia, tenha uma ata, onde é de praxe constar os nomes dos participantes, e com toda a certeza não constará o meu, uma vez que não participei.

Ressalto o que já disse à imprensa, de que não participei, tampouco tinha conhecimento de qualquer reunião para discutir o acordo bilateral de compra de energia entre os dois governos, muito menos de eventuais negociações de empresários do Brasil.

Desejo, e não me preocupo, que a investigação se aprofunde, o fato seja elucidado, e que se houve qualquer irregularidade, em qualquer procedimento, que os envolvidos sejam responsabilizados.