Chico, Cabelinho, Neymar: a sociedade perdoa homens infiéis. Por Nathalí

Atualizado em 20 de setembro de 2023 às 16:28
Chico Moedas e Luísa Sonza, que terminaram relacionamento de 4 meses após traição. Foto: reprodução

A internet não fala em outra coisa a não ser o término do namoro de Luísa Sonza e Chico Moedas.

O destino é tão irônico que logo depois de compor uma canção para o namorado – emocionada a bichinha, mas quem sou eu pra julgar? – Luísa anunciou o fim do relacionamento no Mais Você, com um longo texto sobre traição.

Aliás, corrijo-me: isso não é ironia do destino, é o que se pode esperar dos homens desta geração.

Chico não é o primeiro: Piqué traiu Shakira, Neymar traiu a namorada grávida, Jay-Z traiu Beyoncé, MC Cabelinho traiu a maravilhosa Bella Campos, o marido de Preta Gil a traiu com sua stylist, a lista não caberia nesse texto.

Sempre homens traindo, e quase sempre mulheres perdoando.

Então, não, eu não acho que um textão sobre traição anunciando o fim de um namoro de um mês e meio seja importante na vida de alguém (na verdade, é ridículo), mas há uma coisa que definitivamente precisa ser dita sobre esse vexame:

Os homens que traem são perdoados, quando não pela própria pessoa traída, pela sociedade, e o pano de fundo deste fato irrefutável – porque contra fatos não há argumentos – é sempre o machismo.

Tanto é que Luísa, ex-namorada do humorista Whindersson Nunes, foi acusada de uma traição nunca comprovada e foi tão odiada e cancelada na internet que cogitou sair do país. Até o próprio humorista negou a traição, mas, ainda assim, o ódio contra a mulher prevaleceu.

Agora, quando a traída é ela, o hate no ex-namorado traidor é mínimo.

Quem “cancelou” Neymar por trair a mulher grávida? Pelo contrário, surgiram milhares de comentários em defesa dele: “O amor sempre vence”, escreviam os amigos e conhecidos do jogador, no ápice da brotheragem masculina.

Um país que condena uma mulher por uma traição nunca comprovada mas não condena o homem mesmo quando há imagens que comprovam a traição – ou mesmo quando os traidores confessam, como fez o tal Chico – é, sim, um país hipócrita e machista.

Não importa se Luísa Sonza não é sua cantora preferida – também não é a minha – mas, se a internet a confortasse agora como a apedrejou no passado, certamente o momento seria menos difícil, mas isso, é claro, jamais aconteceria: afinal, ela é uma mulher, e a sociedade jamais parou de jogar pedra na Geni, para citar um outro Chico que me apetece muito mais.

Nenhum dos traidores citados aqui sofreu qualquer consequência, mas quando é a mulher que trai – ou mesmo quando não trai, mas é acusada de fazê-lo – os jornais de fofoca e as redes sociais ficam cheios de posts machistas de quem só precisava de uma oportunidade pra destilar misoginia.

Então, sim, é preciso falar sobre a vida íntima de mulheres, porque é nessas relações mais pessoais que o machismo ainda prevalece.

Somente quando a sociedade parar de tratar homens como meninos – como pediu a cantora em suas redes sociais – a traição será motivo de vergonha, independente do gênero.