Destaques

Como é a vida sem o SUS de quem vive nos EUA

Uma queda na escada de casa causou-lhe a fratura em uma das pernas. No hospital, foram feitos exames de imagem, imobilização com gesso, ministrados anti-inflamatórios e analgésicos. Dias depois, pelo correio, chegou uma continha de quase R$ 30 mil.

A experiência acima foi vivida por um amigo que reside nos Estados Unidos e precisou usar o sistema de saúde americano. Os custos são astronômicos. Três dias de internação podem ultrapassar os R$ 120 mil.

Ainda nas primeiras semanas de pandemia de Covid-19, ficou famoso o caso de um homem que foi fazer o teste e saiu com um boleto equivalente a R$ 14 mil.

Casos um pouco mais complexos que uma simples queda levam cidadãos a perderem casa, tudo. Vão à falência. Isso faz com que muitos americanos evitem ao máximo utilizar o sistema de saúde ou procurar um hospital, suportando dores e procrastinando tratamentos, o que é muitas vezes fatal.

É esse o cenário que podemos ter no Brasil em consequência do projeto bolsonarista de desmonte do SUS.

Ao contrário do que muitos pensam, existe sistema de saúde público nos EUA. Ele não é universal como o nosso SUS – ou seja, cada estado tem o seu e suas regras – mas há 3 sistemas de saúde exclusivamente públicos nos Estados Unidos:

O Medicare, que oferece atendimento médico para pessoas de 65 anos ou mais, e que tenham contribuído com o pagamento de impostos direcionados à saúde durante os anos de trabalho;

O Medicaid, voltado para americanos de qualquer idade em situação de vulnerabilidade e sem recursos financeiros (o que implica na novela burocrática de ter que comprovar a pobreza e nem sempre aceita);

E o Veterans Affairs, destinado aos veteranos de guerra.

Quem não se enquadra em nessas especificidades precisa contratar um plano de saúde privado. E os convênios, como se sabe, fazem de tudo para não proporcionarem cobertura total. O paciente sempre precisa arcar com uma parte.

Todo plano exige o pagamento de uma “franquia” que varia conforme a categoria, mas algo em média de R$ 7.000 ao ano, a serem pagos antes de o serviço começar a funcionar. Atenção: antes !

Depois disso existe ainda o co-seguro, uma taxa entre 10% a 40%, de cada tratamento realizado.

Em resumo, mesmo que o cidadão tenha a sorte de estar empregado e que a empresa tenha contratado plano de saúde para seus funcionários (algo não obrigatório por lá), nunca sai de graça para quem utiliza o sistema de saúde nos EUA.

Meu amigo citado como exemplo no início desse artigo é funcionário de uma empresa de comunicação. Possui um convênio médico privado. Ainda assim, do total de R$ 30 mil referentes a uma simples fratura de osso, R$ 1.200 precisaram sair de seu bolso. O tal co-seguro e mais alguns procedimentos não cobertos.

O decreto 10.530 assinado pelo monstruoso Bolsonaro abre as portas para privatização das UBS (Unidade Básica de Saúde) e colocará o Brasil no rumo da privatização quase total do sistema americano (senão total). Um sistema excludente e elitista.

O direito à saúde é previsto na nossa CF, e é dever do Estado prover a população. O projeto golpista passa pelo desmonte total do Estado, colocando nas mãos de gananciosos o tripé fundamental para o bem-estar e desenvolvimento do povo: saúde, educação e segurança pública.

Aliás, as únicas coisas que funcionam em Cuba, segundo um certo comentarista do programa Manhattan Connection. Tá “sértinho”.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Mauro Donato

Recent Posts

Os estudantes presos e os farsantes de uma democracia disfuncional. Por Moisés Mendes

Joe Biden é o mais republicano dos democratas. As circunstâncias o levaram a ficar diante…

5 horas ago

Consumidor paga mil vezes menos por joia de ouro com diamantes de marca de luxo

Rogelio Villarreal, um cirurgião residente no estado de Tamaulipas, no México, ficou surpreso ao deparar-se…

5 horas ago

De origem judia, candidata à presidência dos EUA é presa em ato pró-Palestina

Jill Stein, candidata nas eleições presidenciais do EUA pelo Partido Verde, foi detida no último…

6 horas ago

Casas Bahia renegocia dívida com bancos e CEO comemora: “Bastante satisfeitos”

O grupo Casas Bahia anunciou ao público neste domingo (28) a conclusão de um acordo…

6 horas ago

Atos pró-Palestina em universidades dos EUA levam mais de 200 à prisão

  Mais de 200 manifestantes foram detidos no sábado (27), nas universidades Northeastern, Arizona, Indiana…

8 horas ago

Brasil espera taxação de super-rico enquanto Congresso vive farra do lobby. Por Sakamoto

Por Leonardo Sakamoto É boa notícia que a proposta do governo Lula de regulamentação da primeira etapa…

8 horas ago