Conflito entre Israel e Hezbollah pode devastar o Líbano, dizem especialistas

Atualizado em 16 de outubro de 2023 às 14:31
Militantes do Hezbollah. Foto: reprodução

Após a intensificação dos ataques israelenses aos palestinos na Faixa de Gaza, que começou como uma resposta para uma ação efetuada pelo Hamas, o Hezbollah, movimento paramilitar sediado no Líbano, afirmou estar totalmente pronto para lutar contra Israel. Os combatentes do grupo têm trocado tiros durante dias com soldados sionistas na fronteira libanesa, resultando em pelo menos 1,4 mil mortes.

Com o aumento da violência, especialistas temem que o Hezbollah possa abrir uma nova frente contra Israel a mando dos seus líderes e dos seus apoiadores iranianos.

Esse cenário pode aliviar a pressão sobre o Hamas e os civis sitiados em Gaza, mas seria devastador para o Líbano e caro para Israel, conforme analistas disseram à Al Jazeera. Aqui está tudo o que você precisa saber sobre as capacidades militares do Hezbollah:

Em julho de 2006, o grupo libanês capturou dois soldados israelenses na sua fronteira, desencadeando uma forte resposta militar do país sionista. A guerra durou 34 dias e resultou na morte de mais de 1.100 libaneses e 165 israelenses.

Segundo os especialistas, ninguém ganhou a guerra de forma conclusiva, mas os civis libaneses foram os claros perdedores. Israel destruiu ou danificou cerca de 30 mil casas, 109 pontes e 78 instalações médicas, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Nicholas Blanford, especialista em Hezbollah do Atlantic Council, um think tank em Washington, disse que o grupo tinha de 3.000 a 5.000 combatentes e mísseis de curto alcance para atingir Israel. Mas ao longo dos últimos 17 anos, o Hezbollah melhorou significativamente as suas capacidades militares.

“Acho que o Hezbollah hoje tem a capacidade de infligir os maiores danos a Israel [desde que o Estado judeu foi estabelecido] em 1948”, disse Blanford à Al Jazeera.

Ele estima que a organização tem pelo menos 60 mil combatentes, incluindo combatentes em tempo integral e reservistas. O grupo também aumentou o seu arsenal de mísseis de 14 mil em 2006 para cerca de 150 mil agora, diz ele.

A maioria desses mísseis é de curto alcance, mas o Hezbollah também possui mísseis iranianos, com um alcance de 300 km (186 milhas). Blanford acrescentou que a unidade de “forças especiais” do grupo paramilitar está treinada para se infiltrar em Israel.

“Talvez não seja uma surpresa o porquê das autoridades sionistas considerem o Hezbollah como sua principal ameaça”, disse ele à Al Jazeera. Após a intensificação dos conflitos, na última semana, Israel acertou um veículo conduzido por uma equipe de jornalismo da Reuters no Líbano. A ação resultou na morte de um cinegrafista. O país sionista alegou que a ação era uma resposta ao ataque do Hezbollah na fronteira entre os países.

Randa Slim, diretora do Programa de Conflitos e Resoluções do Instituto do Médio Oriente, também disse à Al Jazeera que a guerra na Síria – onde o Hezbollah interveio ao lado do Presidente Bashar al-Assad – permitiu ao grupo melhorar as suas capacidades de combate.

“Na Síria, uma guerra prolongada, eles adquiriram novas competências em termos de guerra urbana e inteligência. Seus sistemas de inteligência melhoraram muito”, disse ela à Al Jazeera.

Embora a violência na fronteira entre Israel e o Hezbollah não seja incomum, Slim, do Middle East Institute, acredita que existe hoje um maior risco de uma escalada.

Ela disse que o Hezbollah e o Irã podem decidir abrir uma segunda frente contra Israel, dependendo do nível de atrocidades cometidas em Gaza. Se o Hamas estiver prestes a ser erradicado, o grupo libanês poderá envolver-se, acrescentou ela.

“O Irã reuniu um conjunto solto de integrantes para formar o seu ‘eixo de resistência’, que é agora uma máquina coesa”, disse Slim. “O Hezbollah falou sobre esta ideia – chamando-a de unificação de frentes. Não creio que fosse assim no passado.”

Apesar dos riscos, Blanford acredita que o Irã e o Hezbollah exercerão moderação. Ele explicou que o essa força paramilitar serve como um grande meio de dissuasão contra quaisquer possíveis planos israelenses e norte-americanos para atacar o Irã.

“[Se houver uma guerra no Líbano], então o Hezbollah seria atacado e o Irã perderia um meio fundamental de dissuasão”, disse Blanford.

Xeque Naim Qassem, vice-chefe do Hezbollah. Foto: Anwar Amro/AFP

O Hezbollah tem a capacidade de “infligir um custo terrível a Israel”, mas ainda está em desvantagem, de acordo com Slim. Ela acredita que o grupo pode sustentar um ataque ao país sionista que devaste as infraestruturas do país, como o aeroporto Ben-Gurion e a rede elétrica. Mas no final, o Exército de Benjamin Netanyahu pode reduzir a maior parte do Líbano a escombros.

“Na Síria, a guerra foi diferente. O Hezbollah lutou contra várias milícias – financiadas por alguns governos árabes – mas nada comparado com a poderosa máquina que são os militares israelenses”, disse Slim.

Em um conflito mais amplo, Israel irá provavelmente empregar o que chama de “Doutrina Dahiya” – nomeada em homenagem a um bairro civil e um reduto do Hezbollah no sul de Beirute – que dita o uso de força desproporcional que visa infra-estruturas civis e militares.

Imad Salamey, professor associado de ciência política e assuntos internacionais na Universidade Libanesa-Americana, alertou que uma guerra contra o grupo considerado terrorista poderia levar a conflitos civis no Líbano, que tem atravessado uma crise econômica e política.

Segundo ele, os críticos e opositores do Hezbollah também podem culpar explicitamente o grupo – e os seus supostos apoiantes – por arrastar o país já arrasado para uma guerra. “Se [uma guerra] acontecer, não será como em 2006”, disse Salamey à Al Jazeera. “Haverá lutas e resistência entre as comunidades ao nível interno.”

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