Empresa de Nova York recebe ouro ilegal da Amazônia nos EUA

Atualizado em 2 de abril de 2023 às 9:13
Barras de ouro
Barras de ouro que iriam para Nova York – Reprodução

Em apuração conjunta, a Repórter Brasil e a emissora americana NBC News descobriram que os 35 quilos de barra de ouro amazônico com os quais dois americanos e um brasileiro tentaram embarcar no Aeroporto de Manaus em 2020 podem ser a ponta de um esquema internacional de contrabando. Hoje, a carga vale R$ 10 milhões.

Na época, os três informaram que o ouro seria reaproveitamento de joias derretidas, mas a Polícia Federal já tinha informações que apontavam a possível origem irregular e por isso fez a abordagem. Uma análise inicial e duas perícias mais precisas detectaram impurezas “frequentemente encontradas em ouro de garimpo e nunca em material reciclado”.

De acordo com os laudos, a carga seria da Província Aurífera do Tapajós, no Pará, onde estão localizadas três das terras indígenas mais afetadas pela mineração ilegal: Munduruku, Sawré-Muybu e Sai-Cinza, segundo o Mapbiomas.

Terra indígena Munduruku
Terra indígena Munduruku – Reprodução

Os estrangeiros Frank Giannuzzi e Steven Bellino eram amigos de longa data e foram apresentados ao goiano Brubeyk Nascimento em 2019, quando tiveram a ideia de importar ouro da América do Sul para os Estados Unidos e a Turquia. Assim, surgiu a Doromet, que promete “serviço completo” no comércio de metais preciosos e tem sede em Manhattan, em Nova York.

No Brasil, o negócio de Nascimento deslanchou. Criada em 2018, a Bamc Laboratório de Análises de Solos e Minérios Ltda aumentou em 65 vezes a compra anual de ouro após 2019, mas não está autorizada a comprar ouro de garimpo no Brasil, de acordo com a ANM (Agência Nacional de Mineração), em informações divulgadas pela Folha de S.Paulo.

Um processo movido por Bellino em 2021, em que ele aciona seus dois sócios e alega não ter recebido participação pelo “negócio lucrativo” mesmo tendo investido US$ 750 mil, confirma uma teoria: após a apreensão em Manaus, “todas as remessas de ouro subsequentes foram recebidas do Brasil e processadas nos Estados Unidos, além de em Istambul, Turquia”.

O material brasileiro seria refinado em Nova York, mas a refinaria disse que o documento que foi apresentado às autoridades é “forjado” e que a empresa “jamais assinou qualquer acordo” que envolvesse ouro brasileiro.

Robspierre Lôbo de Carvalho, advogado de Nascimento, afirmou que a origem do metal é legal e que as perícias da Polícia Federal são “totalmente suspeitas e serão impugnadas”. Já as defesas de Giannuzzi e Bellino não se manifestaram.

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