Apoie o DCM

Merval já canta o bota-fora de Bolsonaro e elogia Mourão: ‘Traz tranquilidade’

General Mourão e Merval Pereira. Foto: Wikimedia Commons

Da Coluna de Merval Pereira no Globo.

Quando foi anunciado o general Hamilton Mourão como vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro para concorrer à Presidência da República, um dos filhos do candidato fez o seguinte raciocínio, em voz alta: é bom ter um nome “cascudo”, para deixarem de pensar em impeachment. Fazia referência a que o companheiro de chapa era um general de Exército que já dera demonstrações de que seguia a linha de seu pai, ao elogiar o torturador Ustra, ou ao se referir à possibilidade de um “autogolpe”. O feitiço, porém, virou contra o feiticeiro.

LEIA – Assim como Fachin, Merval Pereira precisou de 3 anos para condenar tuíte de Villas Bôas

Hoje, o fato de ter Mourão como vice traz tranquilidade diante do futuro, caso Bolsonaro seja impedido pelo Congresso. Não que seja um estadista, muito menos traidor, como o presidente desconfia, mas é o agregador natural, pelo cargo que ocupa e pelas atitudes que vem tomando, das insatisfações disseminadas. Mourão tem tido comportamento correto diante das grandes crises, demonstra bom senso na maior parte das vezes, coloca-se como alternativa natural ao gênio explosivo de Bolsonaro, sem precisar fazer declarações críticas, apenas usar o bom senso.

LEIA MAIS – Merval Pereira diz que perseguição da Lava Jato virou “luta política de narrativas” na imprensa

Quando os militares começaram a assumir cargos importantes no ministério de Bolsonaro e em seu entorno, parecia a todos que serviriam como força moderadora do instinto selvagem de Bolsonaro. O fato de não terem reagido às muitas provocações do presidente, quando insuflava manifestações em frente ao Palácio do Planalto ou do Quartel-General do Exército, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o Congresso, fez supor que os militares o respaldavam nesses assaltos ao estado de direito. Chamando de “meu Exército” o Exército brasileiro, dava a impressão de que tudo estava dominado por seu radicalismo.

Demorou, mas ficou claro agora que o respeito à hierarquia tem um limite, coisa que Bolsonaro desconhece.

(…)

Os próximos meses, no entanto, nos reservam muitos problemas, com a economia em frangalhos e a pandemia descontrolada. Um presidente destrambelhado e isolado nesse cenário é caminho aberto para crises permanentes. Ciro Gomes tem razão. Bolsonaro está mais perto do impeachment do que de uma quartelada.

x.x.x

PS do DCM: Decano da redação de O Globo, Merval Pereira é, junto com Miriam Leitão, o porta-voz da família Marinho ‘no tocante’, para usar uma expressão que Bolsonaro consagrou, aos assuntos de política.

Lembrando que a emissora do Rio apoiou a ‘quartelada’ que derrubou Jango e jogou o país na ditadura que durou mais de 20 anos e assassinou milhares, além de promover a desmonte das liberdades democráticas.

Justiça seja feita: em 2016, com Merval como centroavante rompedor, o Globo não só apoiou, mas desta vez comandou a articulação do golpe contra a Dilma.

64 é um marco no inconsciente dos Marinho, por essa motivo não poderia passar em branco: Merval sabe o que faz, sempre por meias palavras. É um craque.