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Recordista de medalhas, Bob Burnquist exalta skate na Olimpíada e defende a maconha

Bob Burnquist. Foto: Wikimedia Commons

O jornalista João Gabriel entrevistou o skatista Bob Burnquist na Folha de S.Paulo.

Como você avalia o desempenho olímpico do Brasil? A gente já esperava boa performance, né? O Kelvin [Hoefler] conseguiu a primeira medalha do Brasil nas Olimpíadas e isso foi super impactante simbolicamente. Mas o que realmente me deixou orgulhoso, além disso, foi a prata da Rayssa. Não só pela medalha, mas pela conduta dela. Eu queria que as pessoas vissem isso. A gente já sabe que o skate é assim, que tem esse essa camaradagem entre os países. Estava preocupado de, nas Olimpíadas, todo mundo ficar nervoso, ficar cada um do seu lado. Então ela começou a brincar com a Tidal, da Indonésia, e deu essa tranquilidade. Elas ficavam dançando, curtindo, isso daí me deixou muito feliz, super emocionado. Isso aí pra mim foi skate total.

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Você teme que a competição olímpica possa diminuir, com o tempo, esse espírito de camaradagem? Acho que não, porque a gente já tem competições grandes há muito tempo, como X-Games, Dew Tour, NBC. Pelo menos eu sempre competi da seguinte maneira: Quando eu vou para um evento grande, é como um empresário que vai de gravata e terno com a malinha trabalhar. Na hora do campeonato, vamos trabalhar. Vou para ganhar, não perder, e são todos meus amigos. A pré-competição sempre teve as melhores sessões do mundo para mim. Porque estão os melhores, em alto nível, só que não é o campeonato. Mas aí chega no evento e, porra, eu não quero cair, né? Tinha gente para quem eu não queria perder. Da mesma maneira que eu vou jogar um tênis de mesa com meu melhor amigo e não vou querer perder nem fodendo. É o mesmo sentimento.

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Você, enquanto skatista, já passou por situações como a que envolveu Kelvin Hoefler, Letícia Bufoni e a Confederação Brasileira de Skate (CBSk)? Por ser ex-presidente da CBSk, o meu comentário é assim: O skate institucional cresceu. É óbvio que não vai agradar todo mundo. Uma seleção brasileira de skate, que é um produto que a gente criou para juntar os melhores e as melhores, não é igual a uma seleção de vôlei ou de futebol que precisa de entrosamento. Não. É um um grupo de indivíduos e nem sempre os indivíduos vão se dar bem, eu não sou amigo de todo mundo também. Acho que a pedida do Kelvin [de querer levar a empresária e esposa] é super válida, enfim. Eu vejo é um grupo que todo mundo torce pelo Brasil, mas tem uns que andam com uns e outros que andam com outros, e é assim”.

Que papel o skate deve ter no debate sobre retirada da maconha da lista de substâncias proibidas no doping? Primeiro, a forma que se lida com as drogas não é correta, a guerra às drogas não dá certo. A gente precisa regularizar, sou a favor da legalização de tudo, para regulamentação. Está se gastando dinheiro à toa, está morrendo gente à toa, tem gente na cadeia à toa. E começa com a maconha. A maior bizarrice do mundo é ela ser incluída no Schedule One [o maior nível de proibição às drogas federalmente nos EUA], que é como se fosse uma droga extremamente nociva à saúde e sem nenhum cunho medicinal. Isso obviamente é uma mentira. E ainda tem o lado racial, ela é ilegal mais pelo preconceito do que por outras realidades”.