Estupro e apoio do Paquistão: como surgiu o Talibã, segundo especialista

Atualizado em 15 de agosto de 2021 às 21:49
Talibã toma o Palácio Presidencial de Cabul – Foto: Reprodução

Quer entender como surgiu o Talibã?

Aureo Toledo, professor de Relações Internacionais e Estudos para Paz na Universidade Federal de Uberlândia, publicou um ‘fio’ no Twitter neste domingo (15) que explica o surgimento do grupo extremista.

As origens do Talibã

Leia, abaixo, o ‘fio’ publicado pelo especialista:

O Talibã é um grupo fundamentalista cuja origem remonta à guerra civil (1992-1996) que sucedeu à saída da então União Soviética do país.

Após a retirada das tropas soviéticas, foi deixado um governo títere que tinha que enfrentar diversas milícias armadas.

Em julho de 1994, o Talibã surge.

Após um líder guerrilheiro sequestrar e estuprar 3 garotas, Mohammed Omar, principal liderança religiosa do grupo, recrutou 30 jovens e com 16 rifles atacou a base da guerrilha, resgatou as jovens e enforcou os raptores.

O grupo, em boa parte estudantes oriundos de campos de refugiados na fronteira com o Paquistão, mostrava-se indignado com a situação do país, e almejava reconstruir a sociedade do país com base em preceitos muçulmanos.

Apoio do Paquistão

O governo paquistanês colocou recursos no grupo, na medida em que passou a compreende-lo como uma oportunidade para estabilizar o Afeganistão.

Em setembro de 1996, o Talibã tomou a capital, Cabul.

O período do Talibã foi terrível. Violação de direitos humanos, intolerância religiosa e perseguição étnica eram coisas do cotidiano.

Em 1997 o Talibã estreita laços com a Al Qaeda, criando as condições para atos terroristas, entre eles os de 11 de setembro de 2001.

Atuação dos EUA

O Talibã caiu em 13 de novembro de 2001, quando tropas dos EUA tomaram Cabul, em retaliação ao apoio do país à Al Qaeda.

A partir daí, as lideranças do Talibã passaram a se refugiar no país, muitas próximas à fronteira com o Paquistão.

Para compreender as razões do avanço tão rápido agora do Talibã, chamo a atenção para alguns fatores.

Os acordos de Bonn excluíram politicamente o Talibã de qualquer negociação.

Obviamente que o grupo deve pagar pelos crimes que cometeu, mas tal opção foi problemática pois o grupo tem apoio considerável da etnia pashtun, a maior do Afeganistão.

Acrescente-se a isso que a presença dos EUA na região não ajudava em nada a estabilização do país, pois os vizinhos do Afeganistão (Paquistão, China, Tajiquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Irã) não são os melhores amigos dos estadunidenses.

Modelo político

Reconstruir custa muito dinheiro, e o Afeganistão é carente em recursos.

O país é dependente crônico de ajuda externa. Para piorar o quadro, o mercado ilícito de drogas é grande no país, particularmente a produção de ópio, que financia muitas milícias.

O sistema eleitoral do país não contribuiu.

O Afeganistão é um dos pouquíssimos países do mundo a adota o “distritão”.

Este sistema incentivou candidaturas personalistas e enfraqueceu muito os partidos políticos no país, dificultando a organização da sociedade civil.

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