O DCM teve acesso à delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz, que confessou ter sido o motorista no dia do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes. No relato para o MP e para a Polícia Federal, Élcio deu detalhes da perícia de Ronnie Lessa com armas de fogo.
O delegado pergunta a Élcio Queiroz como Lessa conseguiu um silenciador para a metralhadora usada no assassinato de Marielle. Ele responde: “O silenciador, o que acontece, ele montava isso aí; ele mesmo montava. É, comprava o tubo, botava os elos. Isso aí ele era perito”
“Perito no assunto?”, questiona o delegado.
“Perito no assunto eu não vou dizer, mas ele entende bastante, muito mesmo; mais até que muita gente que é perito; ele sabe e ele gosta. Eu já vi [Ronnie Lessa montando um silenciador]”.
O delator dá mais detalhes: “Ele já me pediu até pra levar em um torneiro ali próximo de Engenho de Dentro, pra fazer um furo nos anéis; quanto mais anéis, mais silencioso fica; então, tanta quantidade de anéis… mas também inclui a quantidade de jaules da munição, mas ele pediu que…eu falei que tinha um torneiro na minha rua… mas só que levou uma vez um cano pra botar uma rosca e o cara fez tudo torto e perdeu o cano”.
“Era uma 22, aí eu fui lá no Engenho de Dentro, ele falou se eu podia levar essa situação lá; levei lá pro cara, fui buscar e paguei; ele deu um dinheiro pra mim”.
O delegado pergunta: “E esse silenciador da época, você lembra pra que tipo de armamento que era?”.
Élcio Queiroz explica: “Era 9 milímetros; eu não sei qual arma; um eu vi no dia, mas depois…”. O policial pergunta se era da mesma arma usada no assassinato de Marielle.
“Parecidíssimo; e era pra nove também, é por causa da furação; ele falou que era pra nove; ele falou que tinha que ser um torneiro, senão esbarrava…”, completa.
A arma no dia do crime
Na época do assassinato de Marielle, a polícia encontrou no local ao menos oito cápsulas de projéteis de calibre 9 mm. Esse é o tipo mais comum de munição usado em submetralhadoras no Brasil. A polícia descobriu que os projéteis haviam sido roubados de um lote produzido no país, que se destinaria à Polícia Federal.
Na delação, Élcio diz que a arma que matou Marielle Franco foi extraviada de um incêndio Batalhão de Operações Especiais. Segundo ele, Ronnie Lessa já tinha uma relação de carinho com a submetralhadora HK MP5 por ter trabalhado no Bope.
No depoimento, Élcio diz que Ronnie reformou a arma e deixou ela “cem por cento” depois da compra.
“Houve um incêndio no Batalhão de Operações Especiais, no paiol, e essa arma foi extraviada. Essa e outras armas foram extraviadas nesse incêndio aí e essa arma ficou com uma pessoa que eu não sei quem é. Essa pessoa conseguiu fazer a manutenção dela e vendeu pra ele”.