Exclusivo – 17 anos e jogador de LOL: Quem é o adolescente que convenceu Bolsonaro a não comprar vacina chinesa

Atualizado em 22 de outubro de 2020 às 20:39
O adolescente em ato bolsonarista. Foto: Reprodução/Facebook

Por Caique Lima

Bolsonarista, 17 anos e jogador de League of Legends: este é o perfil do adolescente que, com um comentário no Facebook, causou uma crise política e pode ter desencadeado um contratempo diplomático.

“Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor”, escreveu o jovem numa postagem do presidente na rede social.

A resposta de Bolsonaro veio pouco depois: 

“Não será comprada”, definiu, desautorizando o ministro da Saúde, Pazuello, a comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, a vacina chinesa contra a Covid-19.

De Anchieta, no Espírito Santo, ele estuda no 2º ano do ensino médio e carrega uma imagem de templários no seu perfil do Facebook (tanto na própria foto quanto na capa).

Foto de perfil e capa

Membro do grupo “Direita Capixaba”, discursa sobre “cristofobia” e ataca opositores de Bolsonaro (desde o governador João Doria até a esquerda americana) nas redes.

O jovem é monarquista e começou a militar pelo “mito” em 2018. Antes disso, usava imagens de animes (desenhos japoneses) no lugar das fotos de templários que ocupam a porta de entrada de sua rede social.

Ele tem influência bolsonarista na família e compartilha fake news a favor do presidente nas redes: textos do Pleno News (do grupo evangélico MK) e do site de Olavo de Carvalho (o Brasil Sem Medo), vídeos do Brasil Paralelo (produtora de extrema-direita) e até supostas pesquisas de opinião que mostravam mais de 90% de intenção de voto no “mito” nas eleições de 2018.

Além das redes, a militância dele se dá nas ruas. Há cerca de dois anos, participa de protestos pró-Bolsonaro portando uma camiseta amarela e uma bandeira do Brasil (típico traje bolsonarista).

Ele é descrito como “bolsominion favorito” por um amigo.

O DCM procurou o adolescente, que afirmou não esperar tamanho impacto de sua fala nas redes sociais:

“Eu não pensei que um simples comentário iria repercutir assim”.

Ele nega, no entanto, que sua manifestação tenha mudado a decisão de Bolsonaro.

Questionado sobre qual era o objetivo do comentário, ele respondeu:

“Sinceramente, eram apenas suspeitas de que a vacina não poderia funcionar”.

O jovem nega ainda que seja militante, apesar de a maioria esmagadora das suas postagens serem sobre o presidente e ele, inclusive, participar de atos pró-Bolsonaro:

“Não me vejo como militante, me vejo como uma pessoa normal que apoia o presidente e que é capaz de criticá-lo quando o mesmo erra em certas ações”.

Outro bolsonarista preparou o atestado de fritura de Pazuello e deixou Bolsonaro assinar.

Em um post do presidente, Alberes Freitas afirmou que o ministro o “traio com acordo de compra de vacina” (sic).

“Qualquer coisa publicada, sem qualquer comprovação, vira TRAIÇÃO”, respondeu o presidente.

O DCM também procurou Alberes, mas eles não respondeu até a publicação desta matéria.

Conforme revelou a Folha, Bolsonaro sabia da intenção de compra da vacina chinesa desde o fim de semana e não se opôs, mas mudou de opinião após a pressão nas redes sociais.

A China ignorou Bolsonaro e afirmou que manterá a colaboração com o governador João Doria:

“China e Brasil têm colaborado nos testes de vacinas, e nós acreditamos que essa colaboração irá ajudar na vitória final sobre o vírus na China, no Brasil e ao redor do mundo”, disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.

*O DCM ocultou o rosto e o nome para não revelar a identidade do adolescente