“Finanças obscuras de Bolsonaro”: mídia internacional repercute compra de imóveis em dinheiro vivo

Atualizado em 2 de setembro de 2022 às 8:15
Corrupçao
Imprensa internacional repercute escândalo de imóveis pagos em dinheiro vivo pela família Bolsonaro

A compra de mais de 50 imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro repercutiu em diversos jornais da imprensa internacional.

Na França, o jornal Le Figaro destacou: “Bolsonaro nega suspeitas de corrupção contra sua família”.

“O site Uol publicou uma reportagem mostrando que membros da família Bolsonaro haviam adquirido 51 bens imobiliários pagos integralmente ou parcialmente em dinheiro vivo entre 1990 e 2022, por um montante equivalente a quase 4,8 milhões de euros”.

O jornal conservador observa a contradição na resposta do presidente brasileiro à Jovem Pan, que disse pertencerem a seu cunhado: “Uol precisou quinta-feira que apenas 8 dos 51 bens citados na reportagem pertenciam ao cunhado em questão. Os pagamentos em dinheiro vivo em grandes quantidades não constitui em si um delito, mas geralmente levantam suspeitas quanto à legalidade de sua origem”.

“Jair Bolsonaro havia sido eleito em 2018 sob a promessa de tolerância zero contra a corrupção e havia surfado na rejeição a uma esquerda de imagem afetada pelo escândalo envolvendo a empresa publica Petrobras”, lembra.

A reportagem foi reproduzida pelo Ouest-France, um dos principais jornais regionais do pais.

O caso também repercutiu no Reino Unido. “Bolsonaro sob ataque por declarações de que família pagou dinheiro vivo por 51 propriedades”, destaca o The Guardian.

“As finanças obscuras da família de Jair Bolsonaro estão novamente sob escrutínio depois de informações de que o presidente brasileiro e familiares próximos pagaram em dinheiro vivo mais de 50 propriedades que valem milhões de dólares”, afirma Tom Phillips, correspondente do jornal.

“Uma das propriedades, uma mansão na parte rural de São Paulo, foi supostamente comprada por 2,67 milhões de reais pelo cunhado de Bolsonaro, que segundo a reportagem usa o apelido de ‘Jagunço'”.

“Bolsonaro, que venceu as eleições em 2018 dizendo que ia lutar contra a corrupção, reagiu irritado”, observa.

A reportagem anuncia o livro que será publicado por Juliana Dal Piva, que revelou o escândalo. “O livro, que será publicado em setembro por uma das maiores editoras do Brasil, promete esclarecer o suposto esquema de corrupção de longa data envolvendo Bolsonaro e seus filhos políticos”.

“A família Bolsonaro tem sido apontada por anos por alegações de envolvimento na extorsão conhecida como ‘rachadinha’, envolvendo peculato de salários de funcionários. Eles negam as acusações”, explica.

“As revelações desta semana vêm com Bolsonaro enfrentando uma luta para garantir um segundo turno quando o Brasil escolhera seu próximo presidente dia 2 de outubro. O ex-capitão de extrema direita vai mal nas pesquisas, atrás do rival de esquerda, o ex-presidente Lula”.

“No primeiro debate presidencial, Bolsonaro acusou Lula de liderar ‘o mais corrupto governo da historia brasileira. Mas na quinta-feira Bolsonaro enfrentou questões desconfortáveis”.

Em Portugal, o jornal Público repercutiu a notícia com ironia: “Bolsonaro e os filhos compraram 51 imóveis com dinheiro vivo, mas Presidente brasileiro não acha mal nenhum nisso”.

“Quatro anos depois de ter dito que nunca usaria dinheiro vivo para comprar um imóvel pelo perigo que poderia representar, Bolsonaro mudou de discurso. Especialistas dizem que é uma forma usada para lavagem de dinheiro”, observa.

“O uso de dinheiro vivo não é crime, mas é apontado por especialistas como um meio de lavagem de valores obtidos por meios ilícitos, aproveitado a dificuldade de rastreio pelas instituições financeiras”, explicam os repórteres Italo Nogueira Matheus Teixeira.

“De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, essa foi a forma de captação de recursos de ex-assessores utilizada pelo senador Flávio Bolsonaro no esquema denominado ‘rachadinha’. Promotores afirmam que o filho do Presidente recolheu esse dinheiro e praticou lavagem por meio da compra de dois imóveis em Copacabana”.

“Flávio foi denunciado sob acusação de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas o caso foi arquivado após o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) ter anulado as principais provas do caso”, lembra a reportagem.

“Dados da investigação, contudo, mostraram que Bolsonaro fez, no seu período enquanto deputado federal, transações e práticas semelhantes às que levantaram as suspeitas contra o seu filho mais velho. Áudios divulgados pelo UOL em Julho do ano passado sugeriam uma atuação direta de Bolsonaro naquele esquema”.

“Nas gravações, a culturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do Presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o seu irmão porque ele se recusou a devolver a maior parte do seu salário enquanto assessor.”

“O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e os seus familiares mais próximos pagaram em dinheiro vivo quase metade dos 107 imóveis que adquiriram desde que Bolsonaro entrou na política, há cerca de três décadas”, destacou o também português Correio da Manhã. “A prática, nada usual em transações imobiliárias, levanta suspeitas de lavagem de dinheiro”.

“Nos anos 90, quando o atual Presidente começou a singrar na política, o clã Bolsonaro possuía somente 12 imóveis, a maior parte as próprias residências, mas depois lançou-se em vários negócios imobiliários, caracterizados pela venda por valores bem mais altos de propriedades adquiridas por montantes menores. Hoje, a família possui 56 imóveis, incluindo uma luxuosa mansão comprada recentemente em Brasília pelo filho mais velho do Presidente, Flávio, acusado pelo Ministério Público de desvio de verbas.”