Nesta tarde, as autoridades apontavam que mais de dez toneladas de lixo estavam acumuladas nas ruas da capital. Os trabalhadores da limpeza pública exigem o início de um diálogo com o governo, que permanece inflexível a qualquer tipo de negociação envolvendo a reforma da Previdência.
No início da semana, com o aumento das reclamações de parisienses sobre a falta de limpeza urbana, ministros passaram a responsabilizar a prefeita da capital francesa, a socialista Anne Hidalgo. Membros do governo nacional, de centro-direita, exigiam que ela recorresse às controversas “requisições”, medidas que obrigam os trabalhadores a saírem da greve para resolver uma situação de emergência.
No entanto, Hidalgo se recusou a interferir na mobilização dos agentes de limpeza pública. “A única resposta possível para resolver a situação atual é dar início ao diálogo social e não recorrer a uma medida de força”, justificou, em um comunicado divulgado nas redes sociais na quinta-feira (16).
Riscos sanitários e de segurança
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, resolveu então fazer o pedido diretamente ao secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez. A lei francesa permite que o governo nacional passe por cima de uma decisão da prefeitura, caso considere que haja riscos sanitários e de segurança.
“Eu respeito as greves dos trabalhadores da limpeza pública de Paris. No entanto, a insalubridade não é aceitável”, alegou Darmanin.
Segundo ele, as requisições de garis tiveram início na noite de quinta-feira (16). “Desde hoje de manhã [sexta] essa medida está em ação e permite a volta da coleta do lixo”, afirmou, em entrevista à rádio francesa RTL.
O ministro indicou que a prefeitura de Paris foi obrigada a entregar uma lista com o nome de quatro mil empregados da limpeza pública, entre motoristas de caminhões de lixo, lixeiros e garis. As forças de segurança também afirmam ter desbloqueado o acesso a um depósito de lixo ocupado por grevistas em Vitry-sur-Seine, na periferia da capital.
No entanto, a prefeitura de Paris rebate as informações. Sob anonimato, membros da prefeitura indicam que nenhuma lixeira foi esvaziada nos distritos parisienses onde a coleta de lixo é feita por agentes municipais.
Coleta está parada em alguns bairros
Desde o início da greve dos agentes de limpeza, a situação varia de acordo com cada um dos 20 distritos de Paris. Em alguns bairros, a coleta de lixo é realizada por empresas privadas. Em outros locais, como o 9° distrito, no centro-norte, a situação é ainda mais complexa: embora os garis que atuem no bairro sejam contratados pela prefeitura, os caminhões de lixo são gerenciados por prestadoras particulares.
No 15° distrito, gerenciado pelo partido de direita Os Republicanos, a garagem onde os caminhões ficam estacionados foi desbloqueada pela polícia após a ordem de um juiz. No entanto, o local onde o lixo é incinerado segue ocupado pelos grevistas e está sob a responsabilidade do Sindicato Metropolitano (Sytcom), presidido pelo socialista Corentin Duprey. Como Anne Hidalgo, ele se recusa a atrapalhar a mobilização.
Entrevistados pela impresa francesa, representantes dos grevistas garantem que só voltam a trabalhar caso o governo aceite dialogar.
Segundo a reforma da Previdência imposta por decreto na quinta-feira, a idade mínima para aposentadoria dos funcionários da limpeza pública passará de 57 para 59 anos. Para a categoria, a ideia é inaceitável.
Segundo a Confederação Geral do Trabalho, 95% dos assalariados do depósito de Ivry-sur-Seine e todos os motoristas de caminhões de lixo estacionados nas duas maiores garagens municipais continuam paralisados.
As centrais sindicais não informam a quantidade total de funcionários da limpeza pública em greve. Em várias outras cidades francesas, como Rennes (noroeste) e Nantes (oeste), garis também aderiram ao movimento.
Publicado originalmente em RFI