Após uma série de ataques contra escolas em São Paulo, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) reforçou o suporte psicológico nas escolas públicas. No entanto, a contratação de 550 psicólogos para atuar nas mais de 3,6 mil unidades escolares da rede estadual paulista, anunciada como parte dos esforços para lidar com as questões de saúde mental dos alunos, é considerada ineficaz. Nesta segunda-feira (23), uma estudante morreu após ser baleada em uma escola na Zona Leste da Capital.
Especialistas e educadores destacam a insuficiência desse número em comparação com a demanda existente. A conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Valéria Campinas Braunstein, ressaltou a importância de um atendimento mais personalizado e pontuou que cada profissional deveria ser responsável por, no máximo, quatro escolas.
“É impossível para qualquer profissional, por mais qualificado que seja, conseguir fazer um bom trabalho com esse número excessivo de alunos”, afirmou Valéria, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Cerca de um mês atrás, em setembro, o governador bolsonarista vetou um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) que visava autorizar a contratação de psicólogos e assistentes sociais para as escolas públicas da rede estadual.
Na ocasião, ele alegou que o governo já estaria contratando 550 psicólogos para as escolas paulistas. O deputado Paulo Fiorilo (PT), um dos autores, criticou o veto, alegando que o bolsonarista, após oito meses de gestão, apenas iniciou a contratação de serviços de psicologia. “Contratar 550 psicólogos para dar conta de uma demanda de mais de 5.000 escolas da rede é total falta de compromisso com o tema. Nessa conta, cada psicólogo vai atender um contingente de 6.182 alunos”, disse.
↘️ O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lamentou o ataque a tiros que matou uma aluna e deixou outros três estudantes feridos na Escola Estadual Sapopemba, na zona Leste de São Paulo pic.twitter.com/M9kEVnXhA7
— Metrópoles (@Metropoles) October 23, 2023
Especialistas também defendem a necessidade de uma abordagem mais ampla, incluindo a capacitação de educadores para identificar problemas de saúde mental entre os alunos. “Não adianta contratar psicólogos para atender essa quantidade de alunos. Eles não vão dar conta de identificar problemas, situações de conflito e muito menos dar um encaminhamento que possa reduzir a violência”, afirma Cleo Garcia, pesquisadora que estuda ataques no ambiente escolar.
Ainda que a contratação de psicólogos seja um avanço, especialistas destacam a importância de uma abordagem multidisciplinar, incluindo assistentes sociais, para lidar de forma eficaz com as complexas questões enfrentadas pelas escolas.
“O trabalho em conjunto com a assistência social é muito mais efetivo para dar encaminhamento, por exemplo, para situações de violência doméstica, sexual, abandono”, destacou Valéria.
Apesar das críticas, o governo Tarcísio alega que o programa “Psicólogos nas Escolas” está em andamento, mesmo após o veto de um projeto que autorizava a contratação de mais profissionais para as escolas públicas da rede estadual.
Após o incidente desta segunda-feira, o bolsonarista reconheceu as falhas da gestão estadual em relação ao trágico ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba. “A sensação que fica é de frustração. O governo falhou? Provavelmente, falhamos em alguma coisa. A gente não queria ter falhado”, reconheceu o governador.