Guru da cloroquina amado por Heinze e cia., Didier Raoult é afastado de laboratório na França. Por Willy Delvalle

Atualizado em 31 de agosto de 2021 às 12:29

Didier Raoult, médico francês na origem da defesa da cloroquina para tratar Covid-19, deixa a partir desta terça-feira a direção do laboratório Institut Hospitalo-Universitaire Mediterranee Infection. Ele também será aposentado na universidade Aix-Marseille.

A aposentadoria enquanto professor é obrigatória, dada a idade do cientista de 69 anos. Por outro lado, o regulamento do IHU não prevê limite de idade. Raoult formulou um pedido nas últimas semanas para continuar diretor, o que foi recusado pela administração regional de hospitais.

“Há uma necessidade de virar a página e organizar o futuro do IHU para os próximos 20 anos. Precisamos avançar com rapidez, lançar o processo de seleção. Estamos em plena pandemia e precisamos deste instituto, que é uma ferramenta formidável, e de pesquisadores”, explicou François Crémieux, diretor regional dos hospitais de Marselha, no sul da França.

A imagem do instituto se desgastou desde que Raoult publicou pela primeira vez em março de 2020 um artigo que defendia a eficácia da cloroquina para tratar a infecção por coronavirus. A publicação serviu de argumento para figuras de extrema direita como Donald Trump e Jair Bolsonaro defenderem o tratamento.

Em março deste ano, o instituto até então dirigido por Raoult virou foco de contaminação de coronavirus. Funcionários precisaram ser hospitalizados em estado grave.

Seminário realizado no IHU dirigido por Didier Raoult (à direita), sem mascara. Naquele mês, o instituto viraria um foco de contaminação da Covid-19

Rejeitados por ampla comunidade científica na França e no mundo por falhas metodológicas, os estudos do professor culminaram em duas denúncias por charlatanismo e a abertura de uma investigação da universidade Aix-Marseille.

Sob o mote “Touche pas à mon Raoult (Não mexa com o meu Raoult)”, manifestantes anti-vacina e contrários à apresentação de um passe sanitário (vacinação ou teste negativo contra a Covid-19) para entrar em locais fechados foram às ruas se opor à mudança no instituto.

Em entrevista à televisão francesa, Raoult chamou a decisão de “golpe” e sugeriu que o diretor regional de hospitais age para fazer propaganda para o governo Macron. “Não são decisões guiadas pela racionalidade”, disse.

Questionado, o ministro da Saúde Olivier Véran disse que a mudança é uma decisão “puramente local”.

A nova direção deve ser anunciada até o fim do ano.