Autora de ‘O Conto da Aia’, Margaret Atwood avalia impeachment de Bolsonaro

Atualizado em 19 de setembro de 2021 às 19:13
Margareth Atwood – Foto: Reprodução/Instagram

Autora do livro ‘O conto da Aia’, Margaret Atwood avaliou as chances do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A escritora canadense faz muitas perguntas sobre o mandatário ao longo de entrevista à Folha de S.Paulo.

Ao ouvir que o impeachment seria um processo difícil porque o presidente controla a maioria da Câmara, ela retruca:

“Ele acha que controla.” 

“Quando uma figura assim começa a parecer fraca, as pessoas fogem para as montanhas. Dizem ‘ah, eu não gostava tanto assim dele’. Muitos seguem pessoas [como Bolsonaro] porque têm medo do que aconteceria com elas se não seguissem.”

O Conto da Aia

Margaret Atwood é a criadora de uma das principais referências sobre os horrores de uma autocracia no imaginário recente.

“O Conto da Aia” é um romance de 1985 que virou série de sucesso na TV e ganhou uma continuação em “Os Testamentos”, vencedor do Booker em 2019.

“A forma de combater ideias ruins é pela exposição, debate e persuasão, não tentando silenciá-las”, afirmava a carta. “O poder de acusar é um poder. E, como qualquer poder, pode ser corrompido”, avaliou Atwood.

Leia, abaixo, trechos da entrevista:

A senhora já disse ter uma regra pessoal, ao criar ‘O Conto da Aia’, de que tudo ali deveria ter precedentes históricos. Sua ideia sobre o desfecho de Gilead em ‘Os Testamentos’ também vem da história?

Sim, talvez seja um pouco otimista [risos]. Nós não vemos o fim de Gilead, nem o começo do fim, vemos o fim do começo.

Há dois polos opostos em nossos desejos. Um deles é ter ordem, para saber quais são as regras, de outro modo é só caos. Se há muito caos, qualquer um que diga que consegue resolver tudo, “é só fazer o que eu mando”, vai ter um certo número de seguidores. As pessoas não conseguem viver em caos contínuo.

Então queremos isso, mas também não queremos claustrofobia, constrição, viver com medo do Grande Irmão.

Caos contínuo soa muito como o que estamos vivendo no Brasil, com um presidente que faz ameaças quase diárias à democracia.

Isso é mais autoritarismo que caos contínuo. As pessoas provavelmente o elegeram porque sentiam que a coisa estava caótica demais e ele ia pôr ordem. São figuras que se veem como reis.

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