Por Nathalí Macedo
Quando o próprio Jair Bolsonaro não se encarrega de nos envergonhar pessoalmente, seus seguidores fazem o trabalho sujo. Ou, como diz mainha: o cão quando não vai, manda o agregado.
No esporte, alguns desempenham bem essa função. Maurício Souza – jogador de vôlei que apoia abertamente, com foto nas redes sociais e tudo, o pior presidente da história do Brasil -tem brilhado nas redes sociais no papel de bolsominion sem noção.
Nas Olimpíadas, fez uma publicação agradecendo por ter nascido numa época em que “dar a bunda era feio”. Na mesma semana, a seleção foi derrotada pelos russos e Maurício virou meme: o que acha feio “dar a bunda” X o que vence o jogo, escreveram ao lado da foto dele e de um outro jogador assumidamente gay.
Poderia ter dormido sem essa.
E como as olimpíadas acabam, mas a disposição de bolsominion em passar vergonha não, o jogador postou uma foto do Superman bissexual – que tem deixado os bolsominions em polvorosa – e a legenda: “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar.”
Quase chego a sentir compaixão diante da fragilidade da heterossexualidade do bolsominion. Onde é, afinal, que vamos parar? Numa ditadura gay onde o hétero top se vê obrigado a questionar a própria sexualidade? No fundo, acho que é disso que se trata, esse é o medo do beijo gay na TV (não, também não faz sentido pra mim).
Douglas Souza, também jogador de vôlei e assumidamente homossexual, não perdeu a oportunidade de se posicionar. Sem citar o nome do colega, postou a mesma imagem e escreveu:
“Engraçado que eu não ‘virei heterossexual’ vendo os super-heróis homens beijando mulheres. Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para sua heterossexualidade frágil (risos).Vai ter beijo, sim. Obrigado, DC, por pensar em representar todos nós e não só uma parte.
Se você não é um bolsominion ignorante, você sabe que orientação sexual não é uma escolha, e portanto não pode ser “influenciada” por um super-herói ou personagem de novela.
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Homofobia de Maurício é chamada de “treta”
Maurício Souza não sabe disso e alimenta dia após dia o seu medo irracional de ser influenciado por um Superman gay. Nada novo sob o sol: não saber e alimentar medos irracionais (comunismo, marxismo cultural, ditadura gay, etc) são especialidades dos bolsominions.
O que salta aos olhos nessa questão é o tom ameno com que tanto a mídia quanto a equipe técnica da seleção brasileira tratam a homofobia de Maurício Souza. A maioria das manchetes sobre o caso tratam-no como “treta” ou “troca de farpas” entre os jogadores de vôlei.
Treta é Yasmin Brunet indo barracar no Comitê Olímpico Internacional. O que Maurício Souza faz abertamente é homofobia, é criminoso e inadmissível. Um jogador de seleção deveria ter algum pudor ou emitir “opiniões” criminosas em uma rede social.
Aplica-se aos atletas no Brasil uma disciplina impecável em tantos aspectos: vigilância permanente no que diz respeito a bebedeiras e noitadas, cláusula contratual sobre o que se pode e o que não se pode falar em entrevistas… por quê não discipliná-los no que se refere a respeitar a orientação sexual dos outros?
Eu arrisco uma resposta: a retórica do ódio bolsonarista de fato domina o Brasil desses tempos. Eu sei que é difícil pra você, progressista esperançoso, reconhecer e lidar com isso, mas o quanto antes encararmos esta realidade, antes poderemos enfrenta-la.
Em um país sério, jogadores da seleção homofóbicos não seriam jogadores da seleção. Ou, no mínimo, seriam disciplinados. Aqui, eles assumem a homofobia nas redes sociais, ofendendo diretamente colegas homossexuais, e a mídia chama isso de “treta”.
Depois do que os jornalistas brasileiros chamaram de “alfinetada” de Douglas Souza (eu vejo como um posicionamento necessário, mesmo), Maurício não desistiu de ter a última palavra: “Eu fico com minhas crenças, valores e ideais”, escreveu, cheio de si.
Nada mais didático do que essa resposta: no Brasil de Bolsonaro, homofobia é “ideal”.