Múcio está “extremamente desconfortável” com vazamento de delação de Mauro Cid

Atualizado em 24 de setembro de 2023 às 7:30
O ministro da Defesa, José Múcio, entre militares. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O vazamento de trechos da delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid causou desconforto no ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Ele recebeu a missão de distensionar a relação e dissipar o clima de desconfiança mútua entre as Forças Armadas e o governo Lula.

“Ele está extremamente desconfortável, já que tudo isso é uma sangria que não para”, disse um general próximo ao ministro à coluna da Malu Gaspar, do jornal O Globo. “A gente está eternamente preso em outubro de 2022 e janeiro de 2023.”

O desconforto de Múcio com o vazamento da delação de Mauro Cid tem raízes nos eventos ocorridos em 8 janeiro de 2023, quando a invasão e a depredação da sede do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) geraram tensões entre o governo e as Forças Armadas. O ministro tem se esforçado para virar a página desses atos golpistas, mas os recentes acontecimentos dificultaram esse processo.

“Evidente que existe um desconforto, porque isso não se encerra. Esse vazamento a gente fica sem saber se é fato, se não é fato, o que tem de real, a gente não sabe o que está acontecendo. O incômodo é o seguinte: será que isso tudo é verdade, não é verdade?”, disse Múcio à reportagem do jornal carioca.

“Gostaríamos que tudo fosse concluído porque interessa às Forças Armadas participar da separação do joio do trigo. Não interessa a nós ficarmos como suspeitos. Do jeito que as coisas estão, quando você fala nas Forças Armadas, parece que todo mundo é suspeito. Às Forças Armadas interessa que tudo seja absolutamente esclarecido. As Forças vivem hoje o incômodo da suspeição.”

No depoimento que faz parte de sua delação premiada com a Polícia Federal (PF), Cid revelou que, após a derrota no segundo turno das eleições, o ex-presidente recebeu uma minuta de decreto das mãos de seu assessor, Filipe Martins. Essa minuta tinha como objetivo convocar novas eleições e autorizar a prisão de adversários políticos. As intenções golpistas teriam sido respaldadas por membros do almirantado, como o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier.

Paulo Nogueira (ex-comandante do Exército); o ex-ministro da Defesa, Braga Netto; o ex-presidente Jair Bolsonaro; o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, ex- comandante da Aeronáutica; e o almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha

As informações da delação também tiveram um impacto na CPI de 8 de Janeiro, que decidiu ouvir o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), além do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto. Originalmente, o plano era ouvir apenas Braga Netto, mas o novo desenvolvimento levou parlamentares lulistas a convocar Augusto Heleno. Isso pode criar mais atrito nas relações com as Forças Armadas.

Mauro Cid, na sua delação premiada, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e ministros militares para discutir uma minuta que abriria a possibilidade de uma intervenção militar. O plano, se colocado em prática, teria como objetivo impedir a posse de Lula.

Múcio expressou a importância de esclarecer todas as acusações para que as Forças Armadas não permaneçam sob suspeita. E disse ainda, na sexta-feira (22) que “muita gente desejava não largar o poder” durante a transição entre os governos de Bolsonaro e de Lula.

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