“Não dá para confundir antissionismo com antissemitismo”, diz Genoino ao DCM

Recentemente a Conib, que atacou Genoino por suas falas no DCM, pediu a prisão do jornalista Breno Altman

Atualizado em 1 de fevereiro de 2024 às 6:17
José Genoino. Foto: Reprodução/DCMTV
José Genoino. Foto: Reprodução/DCMTV

O ex-deputado e ex-presidente do PT, José Genoino, concedeu uma entrevista ao DCMTV para se posicionar após o ataque da Confederação Israelita do Brasil, a Conib, acusando-o de antissemistismo. Genoino tornou-se alvo na imprensa comercial e de veículos de extrema direita.

Conib propôs recentemente a prisão de Breno Altman, jornalista e editor do site Opera Mundi, após declaração de apoio a Genoino. Altman se destacou com um grande crítico antissionista da brutal repressão na Faixa de Gaza cometida pelo governo de Israel.

Confira os principais pontos da nova entrevista de Genoino ao DCM, em que ele abordou o escândalo de espionagem da Abin e o golpe, de Temer até Bolsonaro.

“Repudio o preconceito ao povo judeu”

Quero agradecer a oportunidade de falar calmamente sobre esse episódio. Há um uma solicitação de investigação junto ao Ministério Público Federal e eu estou acompanhando. Faço questão de deixar claro que os termos da nota da Conib são inaceitáveis.

Repudio qualquer preconceito contra o povo judeu. Tenho respeito ao povo judeu, repudio qualquer tipo de discriminação e qualquer tipo de racismo. Repudio qualquer tipo de antissemitismo.

As minhas críticas ao governo de Israel, que promove o genocídio, a colonização, a guerra e a violência contra o povo palestino negando o direito dos palestinos exercerem a sua autodeterminação, o seu direito a um estado soberano, é uma convicção inabalável que tenho. Quando falei da proposta de bloqueio, falo do movimento internacional contra aquelas empresas que estão vinculadas aos interesses de Israel no massacre ao povo Palestina.

Isso está muito claro na minha fala. Quando eu falei de determinadas empresas, estava se referindo àquelas que se relacionam com o governo de Israel.

Está sendo muito interessante esse debate. É claro que essas ameaças me incomodam. Mas a gente já está calejado.

Tenho recebido muita solidariedade, muito apoio. Tenho minha consciência muito tranquila em relação a qualquer tipo de preconceito ou qualquer tipo de discriminação.

Qualquer tipo de antissemitismo eu repudio. Não tenho aquela visão maniqueísta, porque eu sou crítico, eu combato o governo de Israel. Eles querem interpretar que eu fui antissemita.

Nunca fui e nem sou. Estou nesse debate de uma maneira muito tranquila. Inclusive eu quero hoje citar um artigo brilhante do professor Saul Takahashi da Universidade de Osaka na Al Jazeera. Ele diz o seguinte: “A opinião pública o ocidente tem que tomar medidas para evitar a tragédia, porque senão a Faixa de Gaza vai ser o cemitério da ordem imperialista ocidental, que é racista, genocida e colonialista.

O que está acontecendo com o povo palestino tem todo uma história que veio desde a colonização, desde a criação do Estado de Israel em 1948. Mostra como os palestinos foram perseguidos, expulsos e como são tratados. Tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, como dentro de Israel.

Acho que temos assistido o maior festival de dois pesos e duas medidas no mundo. O Tribunal Penal Internacional, quando for para pegar, condena Cuba e Venezuela. Quando foi para condenar Putin, isso foi rápido. E o bloqueio a Cuba existe há décadas, assim como no caso da Venezuela. Recentemente o bloqueio à Rússia está legitimado.

Foi julgado na Corte Internacional de Justiça a representação da África do Sul. E foi a partir daí que gerou toda essa polêmica comigo, porque o Brasil respaldou a proposta da África do Sul.

Surgiu o debate sobre as empresas envolvidas nisso. A minha posição, repito, não tem nada de ver com discriminação, com preconceito, nem com antissemitismo e é para os judeus que estão inclusive incomodados com essa tragédia.

Eu tenho o maior respeito. Expresso a eles o meu respeito e essa minha consideração por isso que está na minha nota oficial que eu já divulguei. Ela esclarece todo o vídeo e não adianta a gente pegar a parte de um vídeo e editar.

E a partir daí criar um maniqueísmo como uma guerra híbrida. Hoje o termo guerra híbrida tem um outro conceito, de destruição, de imobilizar, de conter, de impedir as pessoas de se manifestarem. E é o que está acontecendo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

As declarações da autoridade do governo de Israel defendendo bomba para acabar com palestino, defendendo colonização numa ilha deserta, acho que é falta de humanidade. Há um dever em conter esse caminho da barbaridade.

São os valores da humanidade que estão em jogo. Os valores da paz e da autodeterminação dos povos. Os valores da pluralidade civilizatória. Por isso se busca a negociação e o cessar-fogo, para não ir ao tudo-ou-nada.

A gente está vendo mais de 25 mil mortos, sete mil crianças, 70 mil feridos e todo dia você vê cenas na internet ou na televisão dessa tragédia que está chocando a opinião pública mundial. Estamos vendo os protestos acontecendo na Europa e o próprio isolamento do governo de Israel é uma prova desse desgaste.

Minha posição é de compromisso com os valores da democracia, da paz, da pluralidade, da civilização e de combate a qualquer forma de preconceito, de racismo, de qualquer atitude que não considera inclusive a história do povo judeu. Temos que combater o antissemitismo.

Agora não dá para confundir antissemitismo com o antissionismo. Não dá para confundir isso com o Estado de Israel e o que o governo de Netanyahu está fazendo na Palestina.

Ninguém pode ficar passivo diante do que está ocorrendo. Queria deixar isso muito claro. Em relação ao povo judeu, quero expressar meu respeito e combato qualquer forma preconceito. Quando eu falei de empresas, disse sobre as que servem ao governo de Israel na guerra contra o povo palestino.

Eu sou um combatente pela soberania do povo palestino.

“O Estado paralelo no Brasil se constituiu desde o golpe de 2016”

Estou à disposição para dialogar sobre a luta democrática. Surgiu um Estado paralelo que se constituiu desde o golpe [contra Dilma].

É bom deixar clara as informações que, desde o golpe através de Michel Temer e o Sérgio Etchegoyen, quando reestruturaram o Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, que é o ninho dessa grande incubadora de espionagem e perseguição é que começam a se montar esses processos. Acompanhamento pelo que as matérias estão divulgando, é importante sempre lembrar que é algo muito grave.

Se criou, dentro do Estado legal, um Estado paralelo para investigar ilegalmente pessoas, localizar pessoas com celular. Se faz isso com pessoas, também se faz isso com regiões, se faz isso com áreas estratégicas.

Se faz isso com recursos minerais. E essas informações ficam na nuvem e essas empresas vão ter essas informações pro resto das suas vidas.

É muito grave o que aconteceu.

Cada dia mais a gente vai descobrindo o desastre que foi o governo do inominável, produto do golpe. Um governo que começa com a intervenção no Rio de Janeiro, começa com os episódios que nunca foram esclarecidos, e só agora tá chegando perto dos dos mandantes do assassinato da Marielle e de seu motorista Anderson.

Agora vem essa organização, esse grande aparelho de espionagem com uma tecnologia israelense sobre a localização das pessoas através de um processo de localização de celulares.

Acho que é importante a gente acompanhar todo esse processo. Claro que tem que vir tudo à tona. A gente tem que fazer esse acompanhamento, respeitando o devido processo legal, o direito de defesa, para ter as provas.

Ter provas bem provadas e com toda a consistência para que a gente possa sair dessa lógica.

Toda vez que o Brasil entra numa crise, se busca uma solução por cima e nunca se faz mudança na nas estruturas.

Vamos ver se dessa vez a gente sai dessa rotina de mudar alguma coisa para que nada mude.

O desafio do governo Lula com o agro

O agronegócio tem um peso nas exportações brasileiras. Nós temos que ter uma relação para se comunicar com os setores não truculentos do agronegócio.

Há uma tradição conservadora autoritária muito forte e há aquele medo que foi construído com o manto da grande propriedade, que veio da Lei de Terras de 1850 e por fora a escravidão.

Acho que isso é uma luta fundamental, uma luta estrutural e eu reconheço que é uma necessidade. 

O agronegócio que recebe benefícios fiscais e do Estado na verdade não tem visão de projeto nacional. Porque ele produz para fora, ele produz para o mercado externo.

Acho que nós vamos ter que fazer um contrapeso com a pequena agricultura, a agricultura familiar, os assentamentos e as cooperativas para ir diminuindo esse peso.

E aí nós vamos entrar num debate fundamental, que é a taxação de lucros e dividendos de patrimônio das grandes fortunas, quando fomos regulamentar a reforma tributária. 

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