O lamentável espetáculo midiático em torno da morte de Walewska. Por Nathalí

Atualizado em 28 de setembro de 2023 às 17:07
Walewska, ex-jogadora de vôlei morta ao cair do 17º andar de prédio

A morte da ex-jogadora de vôlei Walewska Oliveira tem repercutido nas redes sociais e nos portais de notícias há dias, e vem desencadeando cada vez mais desdobramentos.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo – que está investigando o caso – a ex-atleta caiu do 17º andar do prédio em que morava, e há hipótese de suicídio. Para o irmão da vítima, entretanto, a hipótese “não tem lógica”.

“É difícil acreditar que uma pessoa tão linda, tão centrada, tão maravilhosa, tenha feito o que estão falando o que ela fez. Acho que não tem lógica. Ela estava muito bem, amava viver. Difícil acreditar que isso aconteceu”, disse Wesley Oliveira em entrevista ao portal UOL.

Neste ponto, faz-se necessário um parêntese – que é mesmo apenas um parêntese: suicidas podem nunca dar sinais de suas ideações. Não é, portanto, porque a ex-atleta de 43 anos “amava viver”, ou apenas parecia amar, que a hipótese de suicídio deva ser descartada.

O caso, entretanto, é muito mais complexo do que isso: os policiais encontraram, na área de lazer do prédio, uma taça e uma garrafa de vinho, o aparelho celular de Walewska e uma pasta com folha sulfite, em que foi redigida uma suposta carta de despedida.

A família, porém, afirma não ter tido acesso ao documento, duvidando até mesmo que ele exista, pois a polícia não confirmou a existência da carta.

Embora eu saiba que o suicídio pode mesmo ser inacreditavelmente silencioso, assim como a família, discordo dessa hipótese: quando há dinheiro envolvido, toda investigação é pouca.

Walewska deixou uma fortuna ainda não avaliada, e o que se sabe até agora sobre isso é que os pais da ex-atleta são os herdeiros, o que torna a investigação ainda mais difícil.

Uma vizinha da ex-jogadora traz uma versão diferente dos fatos.

Em entrevista concedida a Fábia Oliveira, do portal Metrópoles, a mulher afirma que “há uma grande possibilidade de ela ter se desequilibrado e caído sem querer, pois o guarda corpo que fica próximo à mesa onde ela estava era baixo e perigoso.”

Fato é que os herdeiros da fortuna de Walewska – seus pais – não estavam presentes no momento do acontecido, não tiveram acesso à carta de despedida que ninguém sabe se existe, e, embora ninguém esteja acima de qualquer suspeita, é muito improvável que tenham contribuído de alguma forma com essa tragédia.

O viúvo Ricardo Mendes disse à polícia que o casal passava por problemas no relacionamento e que ele pretendia se divorciar da ex-jogadora de vôlei. No dia da morte, ele afirma que trocou mensagens com ela sobre o assunto.

Ricardo não compareceu ao velório da esposa, e afirmou que “estavam tirando o direito dele de se despedir de Walewska”. O irmão da vítima nega veto à presença do viúvo no funeral. Quem, então, o estaria impedindo de se despedir da ex-atleta?

Essa história segue mal contada, mas, seja como for, o que se sabe até agora sobre a morte de Walewska é nebuloso e insuficiente.

O que mais me salta aos olhos nesse caso, portanto, não é a apuração do que de fato aconteceu – este é um trabalho da polícia -, mas o fato de a morte da ex-atleta ter se tornado um evento midiático sobre o qual todos têm uma sugestão ou palpite, mas ninguém pensa em poupar a família em um momento de luto.

Nem mesmo a própria Polícia Civil ouviu os familiares de Walewska nos primeiros cinco dias após a morte da ex-jogadora, em respeito ao luto dos familiares.

A grande mídia, entretanto, não segue esse exemplo: a maioria dos portais busca apenas um furo de reportagem às custas da morte da mulher.

Há algo de muito estranho nessa tragédia, ninguém negaria, mas somente as investigações serão capazes de determinar o que de fato a ocasionou, e isso requer tempo para uma apuração cuidadosa.

O problema é que, enquanto não sabem o que aconteceu, as pessoas conjecturam ruidosamente diante de uma família enlutada.

A grande mídia não precisa – ou apenas não deve – supor o que pode ter havido antes mesmo do fim das investigações, tampouco transformar a dor de uma família em um espetáculo midiático, como urubus em torno da carniça.

Pessoas públicas e seus familiares também têm o direito de chorarem em paz.