O salto alto torno de Lula, pode o levar ao Maracanazzo e transformá-lo em Moacir Barbosa. Por Vinicius Carvalho

Atualizado em 8 de dezembro de 2021 às 22:26
Lula
Lula – Foto: Reprodução

Por Vinicius Carvalho

Se engana quem acha que as melhores seleções brasileiras foram as de 1970 e 1982; Os números pré-Copa do Mundo apontam que o nosso melhor esquadrão foi o de 1950, quando a competição ocorreria no Brasil.

As duas melhores equipes do planeta na época eram River Plate e Real Madrid; a seleção que venceu o Brasil na final era um aguerrido Uruguai, cuja seleção base era o time do Peñarol; tecnicamente muito mais fraco que o esquete brasileiro. Já o time base titular da seleção brasileira era o Vasco da Gama, que havia vencido com pompa e galhardia o River Plate na final da primeira competição internacional de clubes do continente e posteriormente venceria o melhor Real Madrid de todos os tempos por 4 x 3 em Paris.

Essas informações são importantes para a gente ter noção de proporção e diferença, havia um tsunami técnico entre o Brasil e o Uruguai.

Na final da Copa de 50, bastava um empate contra a seleção uruguaia que chegou ali aos trancos e barrancos, não havia como perder! Final em casa, Maracanã contaria com mais de 200 mil pessoas, calor no Rio de Janeiro e jogando pelo empate…favas contadas.

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Na semana que antecedeu o jogo, os atletas e a equipe técnica da seleção já davam entrevistas como vitoriosos. A CBD, Confederação Brasileira de Desportos, suspendeu a concentração. A nata governo federal brasileiro, na época sediado no antigo Estado da Guanabara, cidade-estado do Rio de Janeiro, bancava festas, bebedeiras, banquetes e rega-bofes para os atletas.

No dia que antecedeu o jogo, quase todos os atletas viraram a noite acordados em comemoração e pela manhã do dia da final, participaram de uma missa já em tom de vitória, na liturgia, o padre já saudava os campeões, missa de 2 horas, senta e levanta, muito tempo de joelhos em oração, jogadores cochilando de cansaço, alguns de ressaca, outros ainda bêbados. Fotografias, farra e muita bajulação.

Porém, o que se viu no final da tarde foi a vitória do Uruguai por 2 x 1, resultado de maior tragédia da história do futebol brasileiro. Muito mais impactante que o 7 x 1 para a Alemanha por um motivo muito simples, em 1950 a autoestima de um Brasil agrário era fundida com a identidade nacional criada pelo futebol. Como disse certa vez Nelson Rodrigues, “antes da construção do Maracanã, quando passava uma carrocinha na rua, o brasileiro sentia medo de ser jogado dentro”.

Os dois jogadores símbolos daquela geração eram o goleiro Barbosa e o atacante Ademir Menezes, o Queixada. Ademir marcaria 9 gols naquela Copa do Mundo, sagraria-se como o maior artilheiro brasileiro de uma Copa até hoje, a cobrança em cima dele foi mais suave. Barbosa, porém, goleiro negro, tomou toda a culpa pela derrota. Racismo puro que, se antes era velado, após a Copa se tornou grosseiro e difundido até pela imprensa.

Chico Anysio e Armando Nogueira começaram a difundir a teoria de que goleiros negros não eram confiáveis (tal crendice fez com que os clubes brasileiros de futebol saíssem em torno de uma sanha louca por goleiros argentinos, uruguaios e gaúchos – assim, no pós-Copa de 50 e fundamentado no racismo da imprensa esportiva da capital nasce a lenda da “escola gaúcha de goleiros”).

Moacir Barbosa, o maior goleiro negro de todos os tempos, num Brasil que havia acabado oficialmente com a escravidão há apenas 62 anos, era o inimigo íntimo, o espantalho perfeito para aquela sociedade.

O estigma e a covardia foram tão grandes que na concentração para a Copa de 1994, Barbosa foi visitar a concentração da seleção brasileira em Teresópolis, e o auxiliar técnico da seleção brasileira, Zagallo, notório bajulador da ditadura militar, impediu a entrada de Barbosa, aos risos de deboche comentou com a imprensa, “Se eu deixasse Barbosa entrar na concentração e visitar os jogadores daria azar”.

Em outra ocasião, numa das frases mais melancólicas do goleiro; ele comentou que “no Brasil, a pena máxima (de prisão) é de 30 anos; mas pago há 40 por um crime que não cometi”.

Metáfora para 2022

Essa reflexão é uma torta metáfora a respeito do que pode nos aguardar em 2022. Todas essas pesquisas que dão Lula com mais de 40% de intenções de votos deveria nos causar um sinal de alerta. Uma grossa parcela da militância progressista brasileira e dos petistas dá a vitória de Lula como certa, favas contadas. Já estão montando time de governo, ministério e fazendo exigências antecipadas.

Nada mais errado. A falsa sensação de virtual vitória, de salto alto, pode nos levar a uma derrota sem precedentes, um verdadeiro Maracanazzo. E se isso acontecer, vocês podem ter certeza; os Chicos Anysios e Armandos Nogueiras da nossa esquerda (e tá cheio) já tem até um espantalho perfeito; dessa vez não um goleiro negro, mas um ex-torneiro mecânico nordestino.

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