O símbolo dos protestos

Atualizado em 16 de junho de 2013 às 15:37
A máscara de Fawkes em origami

A esquerda parece ter avançado.

O símbolo dos movimentos de protesto que se espalharam pelo mundo a partir do “Occupy Wall St”  não é o conhecido retrato de Che Guevara,  mas a máscara de Guy Fawkes usada pelo personagem de V de Vendetta e adotada, depois, pelos hackers do grupo Anonymous.

Já falei de Guy Fawkes aqui. Pronuncia-se “Gui”, de Guido, seu nome. Ele era de origem espanhola.

É um homem que tentou simplesmente explodir todos os políticos ingleses e mais o rei Jaime I no começo do século 17. Fawkes e mais um pequeno grupo de conspiradores cavaram uma passagem sob o Palácio de Westminster, a sede do Parlamento inglês, e nela planejavam colocar pólvora em dose suficiente para destruir tudo ali: o prédio e as pessoas. Em sua História da Inglaterra, David Hume define o episódio como “inacreditável”.

A conspiração fracassou quando um dos envolvidos disse a um amigo que não fosse a Westminster no dia marcado para a explosão. Ele não deu a razão do aviso, mas suas palavras foram suficientes para que fosse iniciada uma investigação que descobriu tudo.

Havia motivações políticas, religiosas e até xenófobas na trama. O rei era escocês e protestante. Fawkes e seus companheiros queriam devolver o catolicismo à Inglaterra. Fawkes foi interrogado pelo próprio rei e foi um bravo em todos os momentos.  Não negou nada. Não pediu nada. Sob tortura cruel, não revelou nada que já não fosse sabido. “Queríamos mandar o mais rápido possível os escoceses de volta à Escócia”, disse ele. Quando o rei perguntou por que tal extremismo, Fawkes respondeu: “Males desesperadores exigem medidas desesperadas.”

Os católicos ingleses imaginaram que Jaime seria mais suave com eles depois da perseguição implacável que lhes fora movida pela rainha Elizabeth, sua antecessora. Logo se frustraram, e aí estava a raiz do complô, que passou para a história como “A Traição da Pólvora”.

Fawkes foi executado ao modo da época: enforcado e depois esquartejado.

Mais de quatro séculos depois, sua máscara está aí, viva e militante, transformada numa arma de silenciosa contundência com a qual gente de todo o mundo parece dizer não aos políticos e à ganância corporativa.

Guevara pode, enfim, descansar.