Operação da PF prende ex-chefe do serviço paralelo de informação de Bolsonaro que perseguia ministros

Atualizado em 8 de fevereiro de 2024 às 10:06
O coronel Marcelo Câmara. Foto: reprodução

A Polícia Federal (PF) efetuou, na manhã desta quinta-feira (8), a prisão do coronel Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e atual segurança do ex-mandatário contratado pelo PL.

Um dos assessores mais próximos de Bolsonaro, Câmara é suspeito de participar de uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado, com o objetivo de manter o ex-chefe do Executivo no poder.

Segundo informações da revista Veja, por determinação de Bolsonaro, ele conduzia investigações, reunia informações e produzia dossiês que já provocaram a demissão de ministros e diretores de estatais, debelaram esquemas de corrupção que operavam em órgãos do governo e fulminaram adversários políticos. Tudo de maneira muito discreta, sem alarde, praticamente às escondidas.

Pessoas próximas ao ex-presidente costumam se referir ao coronel Câmara como “o cara da inteligência”. “Ele só cuida disso. Todas as denúncias que chegam, de dossiês a relatórios de informação, vêm dele”, contou um auxiliar de Bolsonaro.

O trabalho de “compliance” do militar surgiu no início do governo, a partir de uma reclamação antiga do presidente que se tornou pública em meio às acusações de que ele tenta impor maior ingerência em órgãos como a Polícia Federal.

Havia uma disputa de poder entre o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, e Carlos Bolsonaro, o filho do presidente, que suspeitava que o militar conspirava contra o pai. Na época, circularam mensagens de WhatsApp, atribuídas ao ministro, com críticas pesadas a membros do governo.

Incentivado pelo filho, Bolsonaro quis demitir o general, mas decidiu antes acionar o coronel Câmara, que investigou o caso e descobriu tratar-se de uma armação contra o ministro, que ganhou uma sobrevida. Mais tarde, porém, a mesma mão que salvou o general fez chegar ao presidente a informação de que Santos Cruz o havia criticado numa conversa com colegas das Forças Armadas durante um evento em São Paulo. O ministro foi demitido.

O governo gosta de propagar que há mais de um ano não se registra um escândalo de corrupção, o que, de fato, é algo louvável. Uma das ações bem-sucedidas do coronel evitou que um caso embrionário pudesse estourar. Foi de sua pequena sala que saiu o alerta, em meados do ano passado, de que havia desmandos nos Correios.

O Globo Política on X: "Quem é Marcelo Câmara, preso em operação da PF que apura tentativa de golpe de Estado https://t.co/lG8JON3wd4" / X
Marcelo Câmara (em destaque) — Foto: Reprodução

Em setembro, a suspeita foi materializada em uma operação da Polícia Federal que investigou a atuação de um grupo de funcionários do órgão pela prática de corrupção e concussão. Segundo a PF, os servidores instavam clientes a romper contratos com os Correios e a contratar o serviço postal de uma empresa ligada ao grupo criminoso. Antes de a operação estourar, porém, uma limpeza já havia sido feita no órgão.

Bolsonaro demitiu o presidente da estatal, general Juarez Cunha, e três diretores. A ação que impediu o primeiro grande escândalo de corrupção no governo foi creditada ao aviso prévio de seu hoje braço direito e assessor especial.

Além de farejar potenciais focos de corrupção, a pequena Abin do presidente vasculha o histórico de pessoas com quem Bolsonaro tem contato ou que são nomeadas pelo governo. No ano passado, essa checagem salvou o presidente do que poderia se tornar no mínimo um grande constrangimento.

Em uma viagem a Manaus, o cerimonial agendou um almoço de Bolsonaro em um restaurante cujos donos eram empresários ligados ao narcotráfico. Depois da intervenção do coronel Câmara, o evento foi cancelado. Mais recentemente, o militar recebeu a missão de verificar se os integrantes da equipe da então secretária de Cultura, Regina Duarte, mantinham relações pretéritas com partidos de esquerda.

Logo depois de concluído o trabalho, a atriz pediu para deixar o governo. Esta, aliás, é mais uma obsessão do presidente: a desconfiança de que é sabotado por adversários. O coronel costuma fazer uma varredura nas redes sociais de ocupantes de cargos de confiança para tentar descobrir “petistas infiltrados”. Já identificou vários — todos imediatamente afastados.

Já em janeiro de 2023, após o fim do governo, Câmara foi um dos assessores contratados pela Presidência para auxiliar o ex-presidente, com salário de R$ 11 mil. Ele só foi exonerado desse cargo em outubro do ano passado, quando já era alvo da investigação que apura a venda de joias e presentes recebidos pelo ex-presidente. Em seguida, contudo, foi contratado pelo PL para atender ao ex-presidente com uma remuneração de R$ 18,5 mil.

Vale destacar que no ano passado, Câmara também foi alvo da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, que investigou a organização e financiamento dos atos golpistas. Ele chegou a ter sigilo fiscal, telefônico e telemático quebrado pelos parlamentares, assim como o ex-chefe da Ajudância de Ordens Mauro Cid.

Em maio, ele também foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apurava fraude nos cartões de vacina do ex-presidente, familiares e assessores.

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