Os celulares dos homens e dos ratos. Por Moisés Mendes

Atualizado em 3 de maio de 2023 às 23:02
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

Anderson Torres é delegado da Polícia Federal, mas pode ter cometido um descuido de amador, que gente próxima a ele, do esquema de Bolsonaro, não comete.

Torres usava um celular que pode ter todas as provas dos seus crimes. Tanto que negou o fornecimento da senha de acesso à Polícia Federal, quando foi preso. E, quando decidiu que daria, passou uma senha errada.

Torres tentava proteger o que tem armazenado e os dados de conversas e mensagens. Porque aquele era seu celular de uso diário.

Pois Bolsonaro entregou à PF um celular que, segundo ele, nem senha tem. Qualquer um abre o que há no aparelho, é o que ele diz.

Um ex-presidente envolvido com milicianos, manés terroristas, militares, grileiros, garimpeiros e toda espécie de bandido tem um celular aberto.

Bolsonaro tem apenas um aparelho tipo Chevette velho, que qualquer um dirige? Nem os manés acreditam nessa história.

Bolsonaro deve ter muitos celulares e deve falar coisas mais escabrosas pelo celular de auxiliares, como muitos gangsteres fazem.

Já se sabe há muito tempo que ele troca de celular e de número do telefone com frequência. E vai apagando rastros. O celular entregue à PF pode ser apenas um de muitos. Vale para os laptops e outros equipamentos.

Até o capitão Adriano da Nóbrega, que foi cercado e assassinado na Bahia (por ordem de quem?), tinha vários celulares, que ele ia usando e quebrando.

Empresários golpistas que tiveram celulares apreendidos, no ano passado, por determinação de Alexandre de Moraes, avisaram que não havia nada comprometedor nos aparelhos.

Eles usavam celulares para conspirar, atacar o próprio Moraes, o Supremo, Lula e os inimigos. Mas muitos deles não deveriam estar usando aqueles que foram entregues à PF.

Só Anderson Torres, talvez por soberba e por ser policial, não agiu como alguém da área, que conhece esses riscos e os macetes. Tanto que, por excesso de confiança, chegou a guardar a minuta do golpe em casa.

Em maio de 2020, quando foi considerada a hipótese de o Supremo pedir acesso ao celular do sujeito, depois da famosa reunião ministerial da boiada de Ricardo Salles, ele mandou avisar que só entregaria “se fosse um rato”.

Três anos depois, acabou entregando. É provável que não achem nada no celular de Bolsonaro, além de fotos da capivara Filó.

Mas sempre há esperança de que encontrem alguma coisa, não no aparelho, mas arquivada nas nuvens virtuais do celular do sujeito que não queria ser rato.

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