Pedro Cardoso: “A maldade do governo Bolsonaro é um projeto político”

Atualizado em 11 de julho de 2021 às 13:52
Jair Bolsonaro e Pedro Cardoso. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução/YouTube

Publicado originalmente no Instagram do autor

POR PEDRO CARDOSO, ator ex-Globo

Lendo sobre promotoras que deixam a investigação do assassinato político de Marielle por temerem interferência nas investigações; e sobre o advogado que ameaça jornalista de morte por ela ter noticiado as rachadinhas se Jair; e assombrado ainda com a perversidade com que o messias militar viu na pandemia a oportunidade de matar fazendo morrer, bastando para tanto incentivar aglomerações, ridicularizar uso de máscaras e retardar compra de vacinas, lembrei da inesquecível cena nazifascista do sec. de cultura, Alvim; e ela me remeteu ao que Hannah Arendt, em seus estudos sobre a Alemanha de Hitler, chamou de “a banalização do mal”.

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Muito sucintamente, a pensadora nos indica que o mal banalizado ocupa a mente que esteja vazia de pensamentos políticos consequentes. A pessoa que o pratica obedece ao poder vigente, sem fazer consideração moral sobre suas ações. Assim age o policial que bate no pobre. Bater em pobre é a norma aceita e desejada pelos ricos no poder; o policial pratica o mal porque é o que se espera que ele faça.

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Para tal, antes, líderes políticos, perversos autônomos, promovem o mundo violento onde fazer o mal se banaliza. Para que Messias execute a morte por covid de milhões, quantos eleitores dele aceitaram convenceram-se da banalidade das maldades dele para o seguirem apoiando? Ouço de conhecidos meus que Jair não é tão mau quanto dizem; que ele agride por ser espontâneo, etc.

Insistentes tentativas de atenuar a maldade para banaliza-la de modo a que qualquer um possa espancar quem acha q deve, pela razão que obedece. Hannah nos diz que tal maldade assim banalizada é um fato político antes de ser individual.

Apenas num regime que a proponha, a maldade torna-se comportamento aceitável.

A maldade é um projeto político.

Daí para mim que a reação ao nazifascismo tropical deva ser política, e social, portanto. Cabe-nos não admitir sequer convívio, para além do mínimo, com quem apoia o mal banalizado de Jair e os seus.

O discurso de Alvim – tão nítido – jamais foi desautorizado por nenhum de seus outros sec de cultura; o que confirma o fascismo do projeto político dele e deles.

Quem mandou matar Marielle quer silenciar as investigações. Quem será?