Pedro Cardoso: “Difícil dividir as ruas com quem ainda ontem traía o país. MBLs, como aceitá-los?”

Atualizado em 4 de julho de 2021 às 18:00
Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/Instagram

Publicado originalmente no Instagram do autor

POR PEDRO CARDOSO, ator e ex-Globo

Para quem, como eu, pensa que a democracia e a justiça econômica são a mesma coisa, tanto que uma sem a outra não se cumpre, é difícil aceitar que forças políticas que agiram contra a democracia, porque contra a justiça econômica, venham agora se dizer democratas e se juntem a nós nas ruas. Recentemente, essas forças tramaram e executaram golpe parlamentar que arrancou presidenta petista do executivo; e votaram reforma trabalhista e fiscal – entre outras – que subtraíram direitos aos trabalhadores. E ainda aliaram-se ao fascismo brasileiro qdo lhes conveio eleitoralmente; embarcando na demonização do PT. Difícil dividir as ruas com quem ainda ontem traía o país.

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MBLs, egressos do bolsonarianismo, psdbistas aécio nevistas, bolsodorianos e muitos outros… Como aceitá-los? Acho direito dos democratas não aceitar que ofensores da democracia se façam agora de defensores dela apenas pq se indispuseram com o messias militar que há pouco adularam. Mas… Mas penso que, igualmente embora diferentemente, também há forças políticas para as quais a democracia é apenas um modo de chegar ao poder para, do poder, despreza-la então.

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Fosse eu, diria que o melhor movimento pela democracia seria aquele que fosse apenas integrado por pessoas; e não por partidos políticos.

Quem unido está pelo amor a democracia são as pessoas em suas individualidades. A democracia é, para essas pessoas, anterior a própria inclinação ideológica de cada um; ela é um pressuposto do convívio. Eu, se fosse a uma manifestação, iria sem bandeiras e sem legendas.

Iria representando apenas a mim mesmo. Não deveria haver palanques nem microfones. Mas isso queria eu! Em verdade, nessa hora, o nome de Lula, e seu PT, se apresenta como pessoa capaz de tirar o messias militar do poder pelo voto. Que seja, se for. Mas que saibamos que o empenho pela democracia deve permanecer mesmo quando outro que não Jair estiver no executivo. A democracia é um ideal de superação das convicções pessoais em favor do coletivo.

Uma utopia ainda. Vincular a sua defesa ao projeto político de algum partido será trai-la. Agora, há partidos democráticos!

São os mesmos que anseiam pela justiça econômica.