
Foto: Alan Santos/PR
Por Antonio Lavareda*
Segundo a pesquisa Ipespe divulgada hoje (11/03), brasileiros acham que a Ucrânia tem razão mas preferem a neutralidade. O posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) recebe apoio expressivo.
1. A maioria (56%) acha que a Ucrânia “tem mais razão” no conflito e só 8% apontam a Rússia. Os demais se dividem entre as alternativas “ Nenhuma das duas” (17%) e “ As duas têm suas razões” (3%). Não souberam responder 17%. Contudo, a solidariedade tem limites: 62% defendem que o país fique neutro, 29% que apoie a Ucrânia e 2% que se coloque ao lado da Rússia.
2. A postura do presidente no conflito é vista como “total ou parcialmente correta” por 42% e “total ou parcialmente errada” por 48%. A opinião pública praticamente se divide nesse tema. E vale mencionar que essa discussão não foi incorporada até o momento à pré-campanha eleitoral. O encontro de Bolsonaro com Putin dias antes da invasão, muito criticado, parece não ter produzido efeitos negativos nessa dimensão. Sua conduta é respaldada por um percentual muito superior ao da sua aprovação geral. Mas estamos longe de ter um quadro definitivo. Quando os efeitos da guerra se fizerem sentir com mais força será oportuno revisitar a questão.
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Maioria dos brasileiros teme ampliação do conflito na Ucrânia
3. O medo da ampliação do conflito (65%) substitui o temor da em uma quinzena, os que não têm medo do coronavirus vão de 38% a 48%. Concomitantemente, os que ainda estão “com muito medo” somam agora 15%, bem abaixo dos 23% da última medição. Os números são explicados pela centralidade na mídia da guerra na Ucrânia, acompanhada do recuo da quantidade de casos e o anúncio da desativação de medidas restritivas em várias cidades. Em consequência, cresce novamente a avaliação positiva (de 25% para 28%) específica do governo nessa questão. Acompanhada simetricamente pelo declínio da avaliação negativa – de 56% para 53%.
4. Realizada antes do aumento de combustíveis e gás de cozinha anunciado ontem, pesquisa mostra percepção de que a economia caminha “no rumo errado” recuando dois pontos – de 63% para 61%. Embora a noção oposta (“Rumo Certo”) não tenha se alterado, continuando em 29%. A incerteza quanto aos efeitos da guerra na economia e nos preços em particular já alimentava o temor de descontrole inflacionário. Crescia de 63% para 73% o contingente dos brasileiros que projetavam aumento de preços nos próximos meses. A possibilidade de frustração das projeções oficiais de declínio expressivo da curva da inflação nesse semestre é a maior ameaça às chances de reversão pelo presidente do atual quadro eleitoral.
5. Avaliação positiva (“ótima/boa”) da atuação do governo segue em alta, 27%. Cresceu dois pontos em relação ao final de fevereiro e quatro em relação a janeiro. A negativa (“Ruim/Péssima”) reciprocamente declinou dois pontos e agora é de 51%. Os movimentos na avaliação captados através de uma escala de múltiplas opções (ótima, boa, regular, ruim e péssima) estão naturalmente inseridos na latitude mais ampla da classificação dicotômica. Aqui se percebe um processo mais contido. A Aprovação avançou um ponto nessa quinzena, de 31% para 32%, e a Desaprovação se manteve em 63%.
Polarização avançada
6. Lula e Bolsonaro avançam na polarização. A intenção de voto espontânea de ambos cresceu um ponto (Lula, 36%; Bolsonaro, 26%). Moro também evoluiu um ponto, chegando a 5%. Além deles, somente Ciro (4%) e Doria (1%) foram citados. A essa altura, a seis meses do pleito, são eles os candidatos “naturais”, na ótica do eleitorado.
7. No cenário estimulado do primeiro turno, Lula se mantém com 43%, Bolsonaro ganha dois pontos, indo a 28%, e Ciro recupera um ponto e empata de novo com Moro, ambos com 8%. Doria tem 3%; Eduardo Leite, Simone Tebet e Janones têm 1% cada um.
8. No segundo turno, a recuperação de Bolsonaro se dá na mesma medida do primeiro: Lula marca 53% e ele 34%. O presidente obtém seu melhor desempenho contra o adversário desde julho de 2021, enquanto Lula oscila abaixo um ponto, com resultado igual ao que tinha em dezembro passado. Nos outros cenários hipotéticos, Lula obtém: 50% x Moro, 29%; 50% x 25%, Ciro; 53% x 18%, Doria; 55% x 17%, Eduardo Enquanto Bolsonaro registra: 36% x 47%, Ciro; 37% x 38%, Doria; 33% x 33%, Moro; 40% x 35%, Eduardo Leite.
9. No sobe e desce da rejeição, diminuiu o percentual dos que dizem que “não votariam de jeito nenhum” em Bolsonaro (62% para 61%), Lula (43% para 42%), Alessandro vieira (34% para 33%), Eduardo leite (41% para 40%) e Felipe Dávila (37% para 35%). A rejeição permaneceu estável para os pré-candidatos João Doria (59%) e André Janones (37%) . E cresceu para Sérgio Moro (54% para 55%), Ciro Gomes (44% para 45%) e Simone Tebet (36% para 37%). Conforme se constata, em meio a temporada de comerciais de pré – candidatos na TV, migrações acertadas na janela partidária em curso e acerto de coligações, do lado do eleitorado pouca coisa mudou.
*Antonio Lavareda é um cientista político, empresário e escritor brasileiro. É pioneiro, no Brasil, nos estudos teóricos e na utilização de ferramentas de neuropolítica.