Uma nova pesquisa Ipec, instituto que abriga os pesquisadores do antigo Ibope, traz o ex-presidente Lula com 56% dos votos válidos para as eleições presidenciais de 2022, o que lhe garantiria uma vitória folgada no primeiro turno.
Bolsonaro, por sua vez, teria 27% dos votos válidos.
A terceira via ainda não decolou. Ciro tem 9,4% dos válidos, quase um terço dos votos de Bolsonaro. Doria e Mandeetta tem 3% cada, sempre em votos válidos.
Em votos totais, Lula tem 48% e oscilou 1 ponto para baixo em relação à última pesquisa, de junho. Bolsonaro ficou parado em 23% dos votos totais.
Ciro oscilou 1 ponto para cima, de 7% para 8%. Doria caiu 2 pontos, de 5% para 3%.
No cenário 2, expandido com mais candidatos, Lula teria 45% dos votos totais, e 53% dos votos válidos, o que igualmente lhe daria vitória no primeiro turno.
Bolsonaro teria 22% dos votos totais neste cenário, Ciro 6%, Moro 5% e Datena 3%.
Segundo o Ibope, as intenções de voto no ex-presidente Lula são mais expressivas entre:
- aqueles que residem no Nordeste (oscila de 63% para 65%);
- os que têm ensino fundamental I (cresce de 52% para 61%) e o ensino fundamental II (varia de 59% para 58%);
- os que residem em municípios com até 50 mil habitantes (oscila de 54% para 53%);
- os católicos (passa de 52% para 54%);
- O instituto diz ainda que as intenções de voto em Lula são maiores quanto menor a renda familiar mensal: varia de 29% entre quem tem renda familiar mensal acima de 5 salários mínimos para 59% entre quem tem renda familiar até 1 salário mínimo.
O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, tem maiores intenções de voto entre:
- os moradores da região Norte/Centro-Oeste (oscila de 28% para 31%);
- os homens (28%, mesmo percentual da pesquisa anterior);
- os evangélicos (oscila de 32% para 31%);
- quem se autodeclara branco (varia de 29% para 28%);
- De acordo com o Ibope, as menções ao presidente aumentam quanto maior a renda familiar mensal do entrevistado, passando de 16% entre quem tem renda até 1 salário mínimo para 40% entre quem tem renda acima de 5 salários mínimos.
Ciro Gomes tem a preferência dos eleitores com ensino superior (13%). Os demais candidatos apresentam intenções de voto distribuídas de maneira homogênea nos segmentos analisados.
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Avaliação do governo Bolsonaro
O Ipec também divulgou a avaliação do governo Bolsonaro e apontou os seguintes percentuais:
Ótimo/bom: 22%
Regular: 23%
Ruim/péssimo: 53%
Não sabe/não respondeu: 1%
A pergunta feita pelo instituto foi “Na sua avaliação, o governo do presidente Jair Bolsonaro está sendo”, com as opções “Ótimo”, “bom”, “regular”, “ruim” ou “péssimo”.
Somados, os itens “ótimo” e “bom” correspondem ao percentual de aprovação da administração; e os itens “ruim” e péssimo”, ao de reprovação.
Forma de governar
Um dos aspectos pesquisados diz respeito à aprovação da maneira de governar do presidente. Nesse caso, a pergunta feita foi: “E o(a) senhor(a) aprova ou desaprova a maneira como o presidente Jair Bolsonaro está governando o Brasil?” Sobre este quesito, os resultados foram:
Aprova: 28%
Desaprova: 68%
Não sabe ou não respondeu: 4%
Confiança no presidente
A pesquisa também fez a pergunta: “E o(a) senhor(a) confia ou não confia no presidente Jair Bolsonaro?” Os percentuais foram:
Confia: 28%
Não confia: 69%
Não sabe/não respondeu: 3%
Análise:
É mais uma pesquisa a confirmar a acomodação do cenário. A polarização se cristalizou e aparentemente será muito difícil rompê-la.
A pesquisa indica uma consolidação sólida de Lula entre as classes populares, cuja força inercial é maior do que nas camadas médias, ou seja, são menos voláteis às ondas de opinião p´ública e a notícias de rede social.
Bolsonaro, por sua vez, parece ter recuperado terreno junto à classe média, fechando os caminhos para a terceira via.
Além de pouco voto, a terceira via encontra-se profundamente dividida em dois campos: o pólo mais à esquerda, de Ciro Gomes, e o mais à direita, com vários candidatos (Doria, Mandetta, Moro, etc). Até poucos meses atrás, ainda havia um debate sobre a possibilidade da terceira via encontrar um nome único. Essa possibilidade, no entanto, é cada vez mais remota, em virtude do fosso ideológico entre os dois campos.
Segundo Kassab, presidente nacional do PSD, a lógica da terceira via será “cada um por si”, o que significa que pode haver uma grande fragmentação entre os candidatos alternativos. O objetivo desses partidos seria demarcar território, visando obter bons acordos no segundo turno, aumentar sua bancada, e ampliar o poder de barganha no próximo governo.
Ciro está numa situação particularmente difícil. Seus insultos a Lula, ao PT, ao PSOL, ao PCdoB, ao MST, destruíram pontes à esquerda. Os arroubos bolcheviques, prometendo reestatizar tudo que foi privatizado e pôr fim ao teto de gastos (ambas boas ideias, mas expressas com voluntarismo), além da maneira truculento com que lidou com a dissidência de Tábata Amaral, frustraram setores liberais.
Lula, por sua vez, parece até “jogar parado”, mas isso é apenas aparente. O petista tem preferido dar entrevistas a rádios e jornais regionais, ou internacionais, evitando os órgãos tradicionais, com os quais ainda tem relações muito estremecidas.
Essa pesquisa confirma uma tendência já vista em outras, de uma polarização eleitoral classista, com os pobres votando em Lula e os setores mais abastados em Bolsonaro.
(Texto originalmente publicado por Miguel do Rosário em O CAFÉZINHO)