PM Paraná prende jovens que participavam da marcha que pede coragem ao STF para julgar recurso sobre a maconha

Atualizado em 2 de junho de 2019 às 19:47
Jovens presos durante a marcha. Foto de Eduardo Matysiak

Em várias estados da América da norte, como a Califórnia, o consumo de maconha foi liberado. No Chile, é comum ver jovens fumando em praças, porque há uma ordem do governo para não prender usuário. No Uruguai, a cannabis foi legalizada. Em nenhum desses locais, a criminalidade aumentou. Pelo contrário, há registro de que houve redução em alguns casos. Em outros, não há levantamentos precisos.

A Polícia Militar do Paraná foi no caminho inverso a essa tendência nos países civilizados e prendeu uma série de pessoas hoje durante a Marcha da Maconha. O ato reuniu milhares de pessoas, inclusive mães que defendem a liberação da cannabis para fins medicinais, de eficácia comprovada.

As pessoas que foram presas estariam supostamente fumando um cigarro com a erva. Não estavam fazendo arruaça nem provocando ou fazendo mal a ninguém. Mas foram presas e de maneira ostensiva. Não ofereciam resistência. Ainda assim, foram algemadas, como registrou o repórter fotográfico Eduardo Matysiak.

Ele mesmo por pouco não foi preso, apenas porque estava registrando as prisões e foi abordado por um policial, que queria sua identificação. “Não vou mostrar, eu não estou fazendo nada de errado. Estou trabalhando. Por que motivo você quer o meu RG?”, perguntou.

O policial desceu da motocicleta e foi para cima dele, com a acusação sem fundamento de desacato. Só não o prendeu porque outros jornalistas e também um servidor público presente intercederam. Alguns fazendo o registro, outros argumentando que o comportamento do policial não era legalmente cabível.

Com a resistência, o PM foi se afastando, subiu na moto e deixou o local. Logo estava de volta, com outros, para prender jovens que não ameaçavam ninguém. Eduardo Matysiak continuou fazendo suas fotos, que você vê neste artigo.

Também foi preso um homem que vendia camisetas com alusão à cannabis. A acusação contra ele: apologia do crime.

O Brasil precisa discutir o que fazer diante da truculência policial e também em relação à política sobre drogas. A guerra não tem dado certo.

O Supremo Tribunal Federal tinha agendado para este mês o julgamento de um recurso que discute a descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal. O assunto saiu da pauta da próxima quarta-feira e não tem data para voltar.

A mudança na pauta foi decisão do presidente da corte, Dias Toffoli, anunciada depois que ele se reuniu duas vezes com o Jair Bolsonaro, para costurar um “pacto” entre os Poderes, e também em meio a pressões da bancada evangélica para que o Supremo não avance na chamada “pauta de costumes”.

Dias Toffoli não conhece Rui Barbosa, considerado um dos maiores juristas do Brasil em todos os tempo. Ou, se conhece, coloca sua pusilanimidade acima dos deveres da magistratura.

O Brasil perde.

Disse Rui Barbosa:

“Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde.”

A marcha quer seguir o caminho dos países civilizados. Foto de Eduardo Matysiak
Supremo, não se acovarde. Foto de Eduardo Matysiak
A irreverência dos jovens. Foto de Eduardo Matysiak
Liberação vai tirar o jovem das mãos do traficante. Foto de Eduardo Matysiak
A cannabis cura. Foto de Eduardo Matysiak
Ruas lotadas, mesmo em uma cidade conservadora como Curitiba. Foto de Eduardo Matysiak