A série mostra, ainda que moderadamente, a raiz do ódio dos islâmicos pelos Estados Unidos
Achei que não encontraria série policial melhor que a primeira temporada de The Killing, em que o novo noir escandinavo voou alto sob o comando carismático da detetive Sarah Lund – uma quarentona bonita, gostosa em seu pulôver que virou mania mundial, obcecada em combater o crime na sua Dinamarca.
Também imaginei que nada de interessante em seriados policiais sairia dos Estados Unidos.
Foi então que vi Homeland.
Antes de tudo: clap, clap, clap. Aplausos de pé.
Gostei de saber que Homeland ganhou ontem o prêmio de melhor série do Globo de Ouro, na categoria drama. Merecida também a escolha dos dois protagonistas, Damian Lewis e Claire Danes, como melhor ator e melhor atriz.
Homeland é tão bom quanto Killing, com o mérito adicional de ter sido feito em circunstâncias particularmente complicadas. Homeland gira em torno do conflito entre os Estados Unidos e o islamismo. Seria fácil a história ser maniqueísta, ao estilo de Rambo: os bons contra os maus.
Mas não. Homeland capta a complexidade do conflito, e com isso presta um serviço ao público americano. Faz pensar. Mostra o outro lado.
Um sargento americano dado como morto no Iraque reaparece. Nos Estados Unidos, é tratado como um herói da Guerra ao Terror. Mas uma agente da CIA desconfia de que ele se tornou um agente do Al-Qaeda.
Se tornou?
Ele viu muita coisa no Oriente Médio. Foi escolhido para ensinar a inglês para o filho de um líder islâmico. Logo se apegou ao garoto, que acabaria morrendo num ataque das máquinas automáticas de matar chamadas drones – os aviões sem tripulação que, teleguiados do Pentágono, disparam bombas que têm matado civis em enorme quantidade no Oriente Médio. O pai da criança morta diz ao sargento americano: “E depois dizem que nós somos terroristas …”
Homeland, mais que uma série, é um sinal. Estariam os americanos acordando do longo sono durante o qual uma elite pequena, poderosa e predadora transformou o país num campeão da iniquidade social interna e brutalidade militarista externa? O movimento Ocupe Wall St é outro sinal.
Clap, clap, clap. Aplausos esperançosos. De pé.
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