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Por que Toffoli não pode negar o pedido para investigar Bolsonaro por envolvimento na morte de Marielle. Por Joaquim de Carvalho

Bolsonaro, na live em que tentou politizar uma investigação criminal

Dias Toffoli pode transferir ao plenário do Supremo Tribunal Federal a decisão de autorizar o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro a investigar Jair Bolsonaro pela morte de Marielle Franco, mas não terá como negar o pedido.

A menos que queira blindar um suspeito de envolvimento no crime.

Sim, suspeito de envolvimento no crime, e é assim que Bolsoaro deve ser considerado. Fora disso, é politizar uma investigação policial, como o próprio Bolsonaro tentou fazer durante a madrugada na Arábia Saudita: atacou a Globo e o governador do Rio de Janeiro, e misturou ao sangue de Marielle a eleição de 2022.

Se não fosse Bolsonaro o dono da casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, mas outra pessoa, esta já estaria sendo investigada — talvez já estivesse presa ou inocentada, mas jamais ignorada —, porque os indícios de ligação com o crime são veementes: o registro na portaria foi feito no mesmo dia 14 de março em que Marielle foi executada.

Pela imagem mostrada na TV, nota-se que é um livro com registro feito a mão, na ordem cronológica, cada visitante em uma linha. Portanto, não seria possível incluir a visita do coautor do crime Élcio Vieira de Queiroz com data retroativa — aquela linha já estaria preenchida com outra anotação.

O que precisa ser investigado agora é a razão da polícia não ter perseguido essa pista antes — em investigação policial, o atraso só favorece o criminoso, já que a obtenção de provas se torna mais difícil. Registros em vídeo e em áudio, por exemplo, podem ser apagados.

A menos que seja de uma inépcia absoluta, a Polícia já sabe da rotina de Élcio Vieira de Queiroz no dia do assassinato de Marielle desde que obteve as primeiras pistas sobre seu envolvimento no crime.

A investigação funciona assim: parte-se do fato e se busca eventos precedentes, como se uma fita de vídeo estivesse sendo rebobinada.

Além do registro na portaria, tem-se também o depoimento do porteiro. Testemunhos podem ser forjados, é verdade, mas, nesse caso, o álibi de Bolsonaro não derruba a versão da testemunha. Bolsonaro diz que estava em Brasília e alega em sua defesa que há o registro de presença na Câmara.

E daí?

Há condomínios em que a portaria entra em contato diretamente com o celular do proprietário — ou que este tenha em casa um aparelho em que a ligação da portaria é desviada para o celular, sistema conhecido como siga-me.

Enfim, Bolsonaro precisa ser investigado. Já deveria estaria sendo investigado pelo menos desde março — há sete meses —, quando o MP e a Polícia Civil apresentaram Élcio e Ronnie Lessa como executores do crime, e propagaram a versão de que o sargento poderia ter cometido o crime por razões ideológicas.

Uma história que não faz sentido.

Há um mandante, e este é muito poderoso, pois tem tentando interferir na investigação.

Pode ser Bolsonaro o mandante?

Sim, pode. Também pode não ser.

Por isso, ele tem que ser investigado. Há pistas sobre o mandante que levam para a casa 58 do condomínio Vivendas da Barra.

Não fosse Bolsonaro o dono desta casa, a Polícia já teria entrado nela, com autorização judicial.

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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