Prisão de PMs golpistas mostra urgência para remover Bolsonaro das polícias. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 18 de agosto de 2023 às 21:26
Colete da Polícia Militar do Distrito Federal

Contrastavam com outro grupo de PMs que, mesmo em menor número dada a inoperância dos colegas, tentavam conter os criminosos, ou que compravam briga com militares cuja principal preocupação era defender bolsonaristas que estavam indo e cana.

A prisão pela Polícia Federal de sete oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal por ordem do STF e pedido da Procuradoria-Geral da República aponta que era o primeiro grupo, e não o segundo, que estava seguindo ordens da cúpula da corporação.

Não só se omitiram, como ajudaram os golpistas. O relatório da PGR diz textualmente que “estimularam o ingresso de mais insurgentes que, momentos depois, depredariam o Congresso Nacional”, aponta relatório.

Mais do que isso: trocas de mensagens entre oficiais mostram que eles discutiram intervenção militar e formas de manter Bolsonaro no poder à força, além de afirmarem que não aceitariam a atuação da Força Nacional, cogitada antes do 8 de janeiro. Também aponta que sabiam do risco de uma tentativa de golpe porque monitoravam o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, mas não agiram para impedir. Pelo contrário.

A PGR constatou que “havia profunda contaminação ideológica de parte dos oficiais da Polícia Militar do DF”, incluindo terraplanismos como “teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais”. Teorias que, como sabemos, foram incessantemente bombardeadas por Bolsonaro em lives e discursos.

Entre os que foram colocados preventivamente no xilindró, estão o atual comandante-geral da corporação, coronel Klepter Gonçalves, subcomandante da PM no 8 de janeiro. E o ex-comandante Fábio Augusto Vieira, que chefiava a PM-DF no início do ano. Somam-se a eles, três coronéis e dois tenentes.

Dentre todas as forças, a Polícia Militar, é a mais influenciada pelo bolsonarismo. O último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre o tema, de setembro de 2021, apontou que 51% de seus praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) nas redes sociais eram bolsonaristas – em 2020, eram 41%. Imagina-se que, com a polarização eleitoral, o número tenha crescido no ano passado.

Desses, 30% interagiam com conteúdos radicais, como pautas antidemocráticas e de ataque a instituições, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, atacados no 8 de janeiro, contra 25% no ano anterior.

Para transformar essa influência simbólica em controle objetivo, parlamentares aliados do presidente empurraram propostas para restringir o poder dos governadores sobre as polícias. E não foi aleatória a escolha do delegado Anderson Torres, amigo da família de Jair, como ministro da Justiça do governo anterior. Isso foi ao encontro do desejo presidencial de reorganizar, oficial ou extraoficialmente, as polícias sob comando do bolsonarismo.

O campo democrático se preocupa, com justiça, com as Forças Armadas. Mas, muitas vezes, se esquece que aquelas Forças Armadas têm herdeiros. E que esses herdeiros ficaram muito próximos do ex-presidente. Seja na Polícia Rodoviária Federal, transformada em sua guarda pretoriana, seja através das PMs.

A presença de simpáticos ao golpe na cúpula da PM-DF, que se tornou uma das mais bolsonaristas do país, é uma prova de que o Brasil tem um longo caminho pela frente para desbolsonarizar suas forças de segurança. Processo que precisa ser abraçado pelos governos federal, estaduais e distrital, pois não há futuro da democracia sem isso.

Sempre bom lembrar que toda vez que policiais entram atirando em uma comunidade pobre, em uma ação de extermínio ou de vingança, como a recente Chacina do Guarujá, estão saudando o bolsonarismo – que prega a substituição da Justiça pelo justiciamento e a primazia da força sobre o império da lei.

Publicado originalmente na coluna do autor no UOL

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