“Provas da corrupção dele estão no meu processo, com bens de R$ 30 milhões não declarados”, diz ex-mulher de Lira

Jullyene Lins falou no programa Essencial

Atualizado em 22 de junho de 2023 às 18:51
Jullyene Lins
Jullyene Lins no DCM. Foto: Reprodução/YouTube

Jullyene Lins, ex-mulher do presidente da Câmara, Arthur Lira, concedeu uma entrevista ao Essencial do DCM. Na entrevista, a alagoana diz que existem provas de atividades corruptas do ex-marido na ausência de imóveis declarados no Imposto de Renda e na prestação de contas eleitorais.

Recentemente, com boletim de ocorrência e depoimentos de testemunhas dados à Agência Pública, Jullyene acusou Lira de estupro na noite de 5 novembro de 2006.

Confira os principais trechos da entrevista da ex-mulher de Arthur Lira ao DCMTV.

“Peço asilo ao governo federal”

Tenho uma recomendação de um promotor de Alagoas que me recomendou asilo político. Ele que fez todo o trâmite, fez o ofício pedindo essa mudança. Quando eles foram me atender, isso foi sugerido. Era para ir ao extremo norte do Brasil.

Era pra mudar o nome. Eu e meu atual companheiro. Não poderia ter celular. Nada. Disse não para aquilo.

Se tivesse que morrer, seria para morrer em Alagoas mesmo. Se morresse lá, não seria Jullyene e sim Maria dos grudes. 

Nada foi feito. Depois disso, eu não fui mais procurada. Tenho intenção de pedir asilo, como peço ao governo federal. Peço segurança e ajuda aos órgãos necessários, ao Ministério das Mulheres, dos Direitos Humanos, ao presidente.

Eu peço! Porque é realmente complicado.

Não votei no Bolsonaro e acho que o sistema agora é mais humanizado com Lula. A visão é outra. Bolsonaro era o presidente, mas quem mandava era o Arthur [Lira, seu ex-marido], né?

E a chantagem que ele faz agora no governo Lula ele não está conseguindo por completo. Ai ele fica nervoso. Fica zangado. 

Espero encarecidamente que eu tenha algum apoio do governo federal em relação a isso. Eu preciso sair por um momento para pelo menos me reerguer e recomeçar a minha vida. 

O patrimônio de Arthur Lira

É claro que o patrimônio dele declarado não está correto. Em 2007, só a partilha de bens, é de 12 milhões [de reais]. Ele sonegou da Justiça informações sobre o patrimônio, com certeza.

Um dia vamos fazer um tour nas fazendas dele que estão em nome de laranjas. Fazendas, casa de praia, apartamento que ele comprou recentemente a beira-mar, o gado, as fazendas aqui de Pernambuco.

Uma fazenda dele no Pernambuco, uma só, deve estar avaliada em 30 milhões. Perguntei sobre isso até a um corretor de fora. Uns 25 ou 30 milhões em uma fazenda só! Uma só. Fora as outras.

“Ele deixou de pagar um ano de pensão alimentícia”

Após ceder o apartamento ao Collor, para ele [Lira] me deixar naquela situação, com dívida, era muito cômodo. Meus filhos hoje estão contra mim. Entraram no meu Instagram e disseram coisas absurdas.

Passei por vários problemas. Misturava muitas situações e tomava muitos remédios. Misturava com bebida. Eu errei em muitas coisas por esse aspecto psicológico.

Hoje eu sou outra pessoa. Não admito essas coisas. Foram pessoas que foram criadas comigo há pouco tempo atrás. Agora eu não presto? Eu não sou mãe? Saíram do meu ventre. Fui eu quem amamentei.

Mãe é uma coisa sagrada e eu sempre respeitei meus filhos. Tanto que eu nunca quis que eles entrassem nessa confusão.

O mais velho foi para Brasília para estudar e eu fiquei dilacerada. Ele [Lira] foi aos poucos cooptando os meninos. E me deixou sem nada. Ora! É difícil criar o filho de um deputado. Eles sempre queriam mais. A realidade do pai era uma e a minha era outra.

Não podia dar aquilo que eles tinham dentro da casa do pai. Ficavam essas comparações. Quando ele deixou de pagar uma pensão alimentícia de 2012 para 2013, deixou de pagar um ano, eu fui levando a trancos e barrancos isso.

Mas ninguém sabe esses detalhes, entendeu?

Pensão alimentícia era a única coisa que dava cadeia no Brasil. Hoje não dá mais. Acho que ele deixou de pagar por uma armação para tirar as crianças de mim. 

Ele [Lira] levou o mais velho para estudar em Brasília porque ele sofria bullying com tudo. Operação Taturana e brincadeiras de mau gosto por causa do pai.

Em uma cidade pequena, ele sofria muito com isso. Deixei ele ir morar com o pai, mas ele sempre vinha e ficava comigo nas duas férias do ano. Ele ficava comigo e o pequeno continuou comigo.

O pai parou de pagar pensão ao mais novo. Conversei com ele e acertamos, mas acontecia uma alienação parental muito forte. E eu ia tocando aos trancos e barrancos. Deixou de pagar e eu fui até a Justiça e foi engavetado. Normalmente dá cadeia, no meu caso não deu.

O Imposto de Renda

Houve um momento em que começaram a ocorrer atividades ilegais do Arthur, a corrupção. Quando eu o conheci, ele era vereador em Maceió. Não via nada disso. Vi depois de um tempo.

Quando ele se tornou deputado estadual, vi a coisa engrenando. As provas estão dentro do meu processo de dissolução de união estável. Processo em segredo de Justiça. Ninguém consegue ter acesso aos autos.

Todos os processos ele [Lira] coloca em segredo de Justiça. Nesse processo de dissolução está tudo lá. É a caixa preta. É a caixa de Pandora. Tenho todos esses documentos comigo em um local muito bem guardado. Mas eles só foram anexados nesse processo.

Processo de liquidação de bens e dissolução de união estável. Alguns exemplos de documentos que tenho e comprovam corrupção: recibos de pagamentos, documentos de compra e de venda, de bens não declarados no Imposto de Renda.

Há muitos bens não declarados à Justiça. Tanto que no processo foi pedido a quebra do sigilo fiscal. Receita e Coaf. E a juíza nunca solicitou isso. Na separação ele não me deixou quase nada, exceto um apartamento que abordei no Twitter e no Instagram. Foi um apartamento que ele me deu de boca para morar.

Me apossei de lá porque não tinha para onde ir. Na declaração dele, ele colocou um valor irrisório no imóvel, que não vale isso. Ele vai na construtora, na imobiliária, e pede para trocar o nome.

Teve uma situação em que saiu esse apartamento e outros bens no nome do Collor. 

Fernando Collor aparece com esse imóvel porque era para ser o candidato ao governo de Alagoas em 2018, se não me engano. E ele era o candidato do Arthur. Não sei bem como foi essa negociação.

Mas apareceu aquele apartamento e outros bens como se fossem os mesmos do Collor. Quando ele teve essa aproximação do Fernando Collor, eu já não estava mais casada com ele.

“Tudo funciona pra ele. Quando é comigo, é engavetado”

Quando éramos casados, eu sempre estava em casa. Era muito difícil que a gente saísse, por conta de todo o tolhimento [que ele fazia a ela]. Arthur chegava e entrava um assessor. Chegava fulano da Assembleia. Não posso dar nome aos bois. Porque infelizmente não posso falar.

E chegavam sempre com malotes. Com bolsas. Ele ia e guardava. Guardava no guarda-roupa. No closet. Ele pedia para colocar nos envelopes e escrever os nomes. 

Eram políticos, assessores e corretores de imóveis, empresários. Não tenho prova do que acontecia dentro da minha casa, mas tenho como provar para onde foi encaminhado o dinheiro. Compra e venda de gado em Pernambuco. Não tem como controlar muito bens móveis e ele [Lira] gosta muito disso.

Comprava direto de matriz de leilão. Arthur gosta muito do universo rural. E ele usava esse dinheiro para financiar campanhas de aliados em Alagoas sim [o apartamento deles foi usado na campanha do Collor].

Não posso falar mais por causa da minha segurança. Não tem só ele. Tem outras por trás. Tem muitas pessoas.

Noto uma blindagem em torno dele [Lira], com certeza. Mil vezes sim. Porque tudo funciona para ele. Quando é comigo, é engavetado, arquivado, por 17 anos.

Como é que uma juíza dá uma liminar tirando usufruto de mim de um processo que não foi sentenciado ainda. Como é que isso pode acontecer?

Veja a entrevista na íntegra.

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