Quem é o médico que recebeu R$ 30 mil da Saúde para fazer manual do “tratamento precoce” com cloroquina

Atualizado em 17 de maio de 2021 às 11:38
Ricardo Zimmermann na Jovem Pan. Foto: Reprodução

Nesta segunda (17), foi revelado que Eduardo Pazuello encomendou um manual do “tratamento precoce” em novembro do ano passado, quando deveria estar em busca de vacinas contra a covid-19.

O pedido foi feito à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) pelo Ministério da Saúde, que escolheu o infectologista Ricardo Zimerman para fazer o tal material.

Zimmerman é bolsonarista, defensor do “kit-covid” e recebeu R$ 30 mil para produzir o documento.

Além deste manual, que nunca foi divulgado, o portfólio do médico tem outras curiosidades.

Ele foi um dos responsáveis, com Flávio Cadegiani, pelo estudo da proxalutamida, um bloqueador hormonal propagandeado como “nova cloroquina”.

O estudo da droga, aliás, teve indícios de fraude e morte desnecessária de voluntários, conforme mostrou a colunista Malu Gaspar no Globo:

(…) Um dos slides [do estudo] dizia que, dos 590 voluntários, 294 receberam a substância e 296, um placebo. Teriam ocorrido 12 mortes entre os que tomaram o remédio e 141 óbitos entre os que não tomaram. A diferença entre a quantidade de mortes demonstraria uma eficácia de 92,2% para a proxalutamida. 

Embora pareça um resultado extraordinário, esse dado é justamente o que mais preocupa os pesquisadores consultados pela equipe da coluna. Um deles é Mauro Schechter, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro que já conduziu estudos clínicos envolvendo o vírus HIV. 

Para ele, considerando que o estudo se propôs a testar a proxalutamida apenas em pacientes leves e moderados, a taxa de mortalidade de 47,5% é muito alta – próxima da registrada em 2020 no Amazonas para pacientes de UTIs no início de 2020, e bem maior do que a média brasileira em grandes cidades e hospitais de referência, de 30%.

Nesse contexto, Schechter afirma que o estudo teria que ter sido interrompido assim que as mortes começaram a se avolumar.  “Com essa taxa de eficácia, com 40 participantes eu já teria 10 mortes no grupo placebo e apenas uma entre os pacientes que tomaram o remédio. Então para que continuar até os quase 600 voluntários e esperar que morressem quase 150 pessoas?” (…)

Zimmermann também integrou a “missão Manaus”, que propagandeou a cloroquina na cidade pouco antes do colapso.

A missão foi aquela comandada pela “Capitã Cloroquina”, que será ouvida na CPI da Covid.

O infectologista também cuidou de Osmar Terra, negacionista da pandemia, quando ele foi transferido para a UTI.

Ele é conhecido nas redes bolsonaristas por fazer lives e participar de entrevistas propagandeando o “tratamento precoce”.

Já esteve ao lado de Leda Nagle, Rodrigo Constantino e no programa de Luís Ernesto Lacombe na RedeTV.