“Estão dizendo que vão meter bala”: quilombo está sob ataque de jagunços há 4 dias

Atualizado em 15 de setembro de 2021 às 18:08
Barricada montada por funcionários de Stein e Silvano – Foto: Reprodução

Funcionários de Eliberto Stein, dono da Stein Telecom, teriam utilizado correntões para desmatar área quilombola. A reportagem é de Igor Carvalho no Brasil de Fato.

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Quilombola sob ataque

Desde a última sexta-feira (10), o Quilombo Tanque de Rodagem, em Matões, no Maranhão, está sob ataque de funcionários armados dos fazendeiros Eliberto Luiz Stein, dono da Stein Telecom, e Silvano Oliveira, empresários do Paraná que adquiriram uma área que fica dentro do território quilombola, onde pretendem investir no monocultivo de soja.

A acusação é dos moradores do quilombo e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que está no local, prestando auxílio aos quilombolas.

“Eles estão dizendo que vão acabar com a gente, que vão meter bala, que vão meter pancada na gente. Lá em cima tem gente em desespero já”, afirma Luanice Ribeiro, uma das lideranças quilombolas na região.

Barricada montada por funcionários de Stein e Silvano – Foto: Reprodução

Segundo a CPT e os quilombolas, Stein está em Matões, coordenando pessoalmente as ações dos funcionários. No sábado (11), os fazendeiros usaram correntões para desmatar uma área dentro do Tanque de Rodagem – crime ambiental, o que revoltou os moradores do quilombo – , que decidiram fechar a rodovia MA-262, que passa em frente da propriedade (no final da matéria, galeria de imagens com fotos do uso de funcionários usando os correntões na área).

Com o trânsito de carros e tratores impedidos pela comunidade, os funcionários de Stein passaram a ameaçar os quilombolas.

“O clima tá tenso, está um desespero, está a coisa mais feia que você possa imaginar. Estamos sendo ameaçados direto pelos capangas da empresa de Eliberto, tem idoso e tem crianças pelo meio. Eles estão ameaçando que hoje ainda…vai acontecer uma tragédia aqui com a gente. Eles estão ameaçando que até 18h, eles vão meter a porrada na gente, pra gente liberar a rodovia”, contou Ribeiro ao Brasil de Fato.

Tânia Ribeiro, quilombola que vive no local, relatou as ameaças, em vídeo enviado ao Brasil de Fato.

“Estamos sofrendo agressão por parte do fazendeiro, ele diz que comprou aqui e está nos ameaçado de morte.”

Advogado da CPT, Rafael Silva, que está em Matões, alerta. “De sexta para cá, a coisa tomou uma proporção que a qualquer momento pode acontecer uma tragédia lá”.

“Eles (Eliberto Stein e Silvano Oliveira) adquiriram esse imóvel esse ano, nunca tinham pisado lá. A comunidade, só para você ter noção, o processo administrativo no Incra é de 2013. Eles não tem autorização judicial para entrar na comunidade. Eles estão usando a violência para destruir a comunidade quilombola.”

Servidores da Secretaria de Igualdade Racial do Maranhão foram impedidos por funcionários dos fazendeiros de acessar a área em disputa. Usando um carro e um caminhão, eles trancaram a rodovia (ver vídeo no final da matéria).

Por volta de 16h30, desta terça-feira (14), a polícia interpelou os funcionários dos fazendeiros e os revistou na rodovia. O delegado responsável pela Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), Guilherme Luiz Campelo dos Santos, informou que já estão sendo realizadas investigações sobre o caso.

“No que compete à polícia civil, no interior, desde que tomamos conhecimento do fato mandamos equipe ao local para identificar supostos “jagunços” e proceder as investigações de polícia judiciária. Participam do acompanhamento do caso a Delegacia de Combate a Conflitos Agrários e a Regional de Timon. Inclusive neste exato momento temos equipe do GPE e da Delegacia de Matões acompanhando o movimento e procedendo às investigações”, disse Santos.

Histórico

Os primeiros quilombolas a ocuparem a área onde está o Quilombo Tanque de Rodagem chegaram na década de 1970. O terreno fica na beira da rodovia MA-262, onde os moradores já organizaram a divisão do território, com casas e plantações para o sustento da comunidade.

Desde 2013, tramita no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o processo de reconhecimento da área como território quilombola. No entanto, a última movimentação no processo do Tanque de Rodagem foi em 2017. Sem a documentação definitiva da posse, os moradores não conseguem avançar com a regulamentação das moradias e nem acessam linhas de crédito para a produção agrícola.

Outro lado

O Brasil de Fato não conseguiu localizar Eliberto Luiz Stein e Silvano Oliveira.