O racismo de Arthur Aguiar no BBB é uma história que se repete. Por Nathalí

Atualizado em 14 de fevereiro de 2022 às 15:27
Análise sobre Arthur Aguiar, BBB, Natália e racismo
Arthur Aguiar e Natália são participantes do BBB 22

Toda edição do BBB tem por tradição apresentar um (a) participante perseguido (a) pelos outros, que em geral se torna quase um santo diante do público e não raramente leva o prêmio.

Desde o BBB1, com BamBam e sua boneca Eugênia, passando por Jean Wyllys, a primeira bicha perseguida da história do reality, e por outros negros, gordos, pobres e nordestinos que já foram detestados em rede nacional, suportaram as humilhações por três meses e saíram milionários (ou nem isso, como foi o caso de Babu Santana).

Natália Deodato parece ser a eleita desta edição. Negra, pobre, perseguida pela maioria dos participantes da casa, sem aliados e fiel ao estereótipo da mulher “braba” (que é frequentemente a mulher assertiva, e em geral penalizada por ousar dizer o que pensa sendo uma mulher), Natália tem tudo pra ser a Juliette da edição.

Tudo, inclusive a chatice.

Tudo, menos a pele branca.

Convenhamos: Se Natália fosse branca, toda chatice seria perdoada com o mesmo perdão dado de bom grado a Juliette. Mas como ela não tem um rostinho bonito e palatável, um corpo pequeno e delicado, há de se arranjar um jeito para detestá-la, ou, ao menos, pra não lhe dar tanto espaço.

Não à toa, a participante é uma das que menos conquistaram seguidores nas redes sociais até agora, e sua popularidade fora da casa reflete o mesmo preconceito encrustado que motiva, diante das câmeras, a perseguição à qual o público assiste, atônito.

A verdade é que o brasileiro – mesmo o brasileiro progressista, pensador crítico, frequentador de feira literária, fã do MST, leitor da mídia alternativa, etc – só suporta minorias até certo ponto. É capaz de adotar uma nordestina forçada – e branca – e se apaixonar pelo sotaque dela e se sentir, por isso, um brasileiríssimo defensor dos pobres e oprimidos, mas é incapaz de engolir uma preta de curvas avantajadas falando o que pensa na TV aberta.

Desculpem, amigos, mas é isso. E isso precisa ser dito porque, na maioria das vezes, nos recusamos a perceber, mas é necessário se perguntar: por quê o Brasil fez de Juliette a campeã, mas Babu perdeu o prêmio e continua no ostracismo? Por quê, mesmo tão perseguida quanto Juliette, Natália não tem ainda uma legião de fãs? Será que o que temos chamado de “carisma” não é apenas um fenótipo que consideramos aceitável?

O machismo, é claro, também dá sua contribuição nesse caso: querido pelo público por protagonizar memes comendo pão, o ator Arthur Aguiar é a prova disso. Em uma conversa com Douglas Silva, também ator e colega de confinamento, Arthur criticou as bebedeiras de Natália durante as festas, ao que DG respondeu com um belo “f*da-se”.

É isso, f*da-se. O fato de uma mulher beber e rebolar a raba até três da manhã em rede nacional não diz nada sobre o seu caráter ou sobre sua qualidade enquanto jogadora. Toda ideia contrária é, sim, machismo, e nesse caso temperado por uma dose do velho racismo velado à brasileira, já que, na mesma conversa em que criticava o comportamento de Natália, Arthur elogiava as bebedeiras de Eslovênia – branquinha, delicada e miss.

“Infelizmente, a Nat tem algumas atitudes que prejudicam ela, como perder o controle. A Eslô se diverte, perde o controle em alguns momentos, mas o perder o controle dela não afeta ninguém, é divertido, é legal”, avaliou Arthur, o juiz do comportamento feminino, mesmo após a cortada de Douglas Silva.

Me recuso a comentar a mania masculina – ok, nem todo homem, provou DG – de se sentir na posição de julgar o comportamento feminino e dar o seu veredicto. Quero me ater apenas ao fato de que Eslovênia, em um de seus “momentos de descontrole”, quebrou uma câmera de 300 mil e gerou punição para todos os participantes. Natália, no máximo, chorou por um feio em rede nacional quando ficou bêbada.

Em qual dos dois casos o descontrole gerou um prejuízo coletivo? E por quê a branca bêbada é legal e divertido, e a preta bêbada é condenável?

Meus amigos, só não vê quem não quer. É racismo, sim. O mesmo racismo que fez com que a também negra Jessilane dissesse que “mesmo fazendo de tudo para ser aceita, as pessoas simplesmente não gostavam dela.”

Ela diz não entender o porquê. Acuadas pela rejeição em um confinamento, elas talvez não tenham coragem de gritar como gostariam, mas elas entendem, sim.

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Elas sabem que essa rejeição vem do mesmo lugar de onde sempre veio, quando sofriam bullyng na escola, quando perderam oportunidades profissionais por não apresentarem “boa aparência”, quando foram seguidas pelo segurança do mercado.

Um oprimido sempre reconhece sua opressão, mas nem sempre pode gritá-la.

Assistir duas mulheres negras serem arbitrariamente perseguidas em rede nacional só reforça o porquê de estarmos nesse buraco civilizatório: a maioria de nós escolhe homens que viram meme por comerem jujuba em detrimento de mulheres que fazem o seu corre e dizem o que pensam.

Por Nathalí

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